O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reconheceu nesta quinta-feira que seu país demorou para defender os direitos humanos, durante a última ditadura militar da Argentina. Em discurso, Obama recordou as milhares de vítimas do terrorismo do Estado, no Parque da Memória de Buenos Aires.
“Tardamos em defender os direitos humanos e foi o que ocorreu aqui”, disse Obama durante um ato em homenagem às vítimas da ditadura, realizado junto com o presidente argentino, Mauricio Macri, em um memorial situado diante do rio da Prata.
Obama, que chegou na véspera a Buenos Aires para uma visita oficial de dois dias, também reconheceu que houve “uma grande polêmica acerca da política norte-americana no começo desses dias escuros” e apontou que os EUA devem “examinar suas próprias políticas, seu passado”.
A homenagem aos desaparecidos da chamada guerra suja ocorreu para marcar o 40º aniversário do golpe de Estado. O evento não contou, porém, com a presença de entidades de direitos humanos da Argentina, que se incomodaram com a visita do líder de um país que apoiou os regimes militares sul-americanos nos anos 1970.
Macri, por sua vez, disse que esta era uma “maravilhosa oportunidade” para que todos os argentinos digam “nunca mais à violência institucional”.
Obama disse também que, a pedido da Argentina, Washington revelará novos arquivos secretos sobre o papel dos EUA durante a ditadura, incluindo registros militares e de inteligência. Segundo ele, os EUA têm “a responsabilidade de enfrentar o passado com honestidade e transparência”.
O golpe militar derrubou a presidente María Estela Martínez de Perón, em cujo mandato grupo guerrilheiros haviam começado a ser reprimidos, e instaurou um governo entre 1976 e 1983, durante o qual dezenas de milhares de pessoas de organizações armadas, dissidentes políticos, operários e estudantes foram assassinados. No começo desse período, o presidente norte-americano era o republicano Gerald Ford (1974-1977), cuja administração fechou os olhos para as violações aos direitos humanos cometidos na Argentina, como revelado em documentos divulgados há vários anos por Washington. O democrata James Carter (1977-1981) reverteu essa política e passou a escutar as denúncias sobre desaparições de pessoas.
O discurso foi o último ato oficial de Obama durante a visita à Argentina, que começou na véspera. O presidente norte-americano ainda viajará nas próximas horas à cidade turística de Bariloche, 1.600 quilômetros ao sul de Buenos Aires, no mesmo momento em que organizações humanitárias e grupos de esquerda marcharão pelas ruas de Buenos Aires e recordarão os desaparecidos. Fonte: Associated Press.