Na última vez que o diretor Rodrigo García esteve em São Paulo, sua peça Gólgota Picnic surpreendeu o público com seu palco formado por cerca de 25 mil pães. Nessa encenação, o diretor argentino radicado na Espanha tinha muito o que falar sobre a força fabular e igualmente destrutiva das narrativas religiosas, principalmente a cristã. Na ocasião, a questão que pairou e circulou nas redes sociais foi a utilização de alimentos (e em grande quantidade) para compor uma obra artística. Mas nada disso pareceu arranhar a produção do artista que também costuma utilizar animais em suas encenações.
Nesta quinta, 8, García abre o Festival Ibero-americano de Artes Cênicas de Santos, com o espetáculo 4, peça que se despede da força da palavra trazida em Gólgota Picnic, para apostar na criação de imagens aleatórias, como galos vestindo tênis Nike. “Em Gólgota, eu me apoiei em longas reflexões sobre a religião, embora também tenha reunido imagens icônicas do cristianismo como Jesus crucificado e os pães multiplicados, em referência ao seu primeiro milagre”, explica em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”. Em 4, o diretor elege cenas aparentemente aleatórias – crianças vestidas de top models conversam com samurais – para tratar de um problema atual: o consumismo.
Enquanto isso, galos passeiam livremente no palco. Quanto ao animais, García é sucinto. “Uso animais porque eles existem. Isso não quer dizer que eles são maltratados. Trata-se da busca por uma estética particular.”
Em outra montagem de García, a performance Accidens trazia uma lagosta viva dependurada por um barbante. Um homem matava o animal, cozinhava-o em uma panela e depois comia. “Isso já me rendeu protestos dentro do teatro e até chamaram a polícia.”
Questionado sobre a possibilidade de haver protestos durante a exibição da peça, o coordenador de programação do Sesc Santos, Luiz Fernando Silva, emitiu uma nota informando que a instituição “não interfere no processo criativo dos autores e só programa aqueles que cumprem todas as normas, cuidados e procedimentos necessários para utilização de animais em cena, como é o caso de 4, do dramaturgo espanhol”.
Em 2014, a encenadora catalã Angélica Liddel, que também está na programação do Mirada com a peça Que Haré Yo Con Esta Espada?, enfrentou protestos na peça Eu Não Sou Bonita, apresentada na Mostra Internacional de São Paulo. A presença de um cavalo em cena provocou protestos e a sessão foi interrompida. “O animal é muito bem tratado”, justifica Angélica “A arte é, precisamente, a própria liberdade de expressão, contra todo totalitarismo.”
Em São Paulo
– Qué Haré Yo Con Esta Espada? (Espanha). Sesc Pinheiros – 17 e 18/9
– No Daré Hijos, Daré Versos (Uruguai). Sesc Ipiranga – 20 e 21/9
– La Contadora de Peliculas (Chile). Sesc Vila Mariana – 21 e 22/9
– Dínamo (Argentina). Sesc Bom Retiro – 24 e 25/9
– Psico/Embutidos (México). Sesc Consolação – 23/9 e 1º/10
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.