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Obra de David Bowie é revisitada após a morte por câncer no fígado

David Bowie morreu no domingo, 10, mas a notícia só chegou ao mundo nas primeiras horas da manhã seguinte. No restante do dia, a figura andrógina do britânico espalhou-se pelo globo. Redes sociais, serviços de streaming de música, nas vendas físicas do novo álbum. David Bowie foi, novamente, o centro de tudo, como se acostumou a ser a cada nova transformação.

A família do inglês, que há anos havia escolhido Nova York como sua morada, pediu privacidade durante o período de luto, em um comunicado publicado na conta oficial do Facebook de Bowie. Revelaram apenas a causa da morte: a perda de uma batalha contra um não especificado tipo de câncer que durou um ano e meio.

Mesmo sem a confirmação oficial dos familiares de David Robert Jones, Ivo van Hove, o belga que dirige o musical Lazarus, criado por Bowie, revelou ter descoberto o tipo de câncer de Bowie pelas palavras do próprio, durante o período em que trabalharam juntos para montar a peça, que entrou em cartaz em Nova York fora do circuito da Broadway.

“Eu vi o homem lutando”, disse ele ao site holandês dutchnews.nl, de acordo com o que informou o britânico The Telegraph. “E ele lutou como um leão. Continuou trabalhando como um leão, mesmo depois de tudo. Eu tenho um respeito incrível por isso.”

Van Hove afirma ser um dos poucos que sabiam as especificações da doença entre aqueles que trabalhavam em Lazarus. Bowie confidenciou ter um câncer no fígado para justificar a ausência em muitos dos ensaios do musical. “Ele me contou (a notícia) há mais de um ano e três meses. Logo depois de descobrir”, contou. “Ele sabia que talvez não pudesse estar sempre presente.”

Vendas astronômicas

Blackstar, o último disco, lançado dois dias antes da partida do inglês, causou impacto na última sexta-feira, 8, data de lançamento e do aniversário de 69 anos do músico. Um jazz torto espalhado por batidas eletrônicas e versos assombrosamente melancólicos. O real significado do trabalho, contudo, só foi conhecido quando a morte do ídolo foi noticiada. Subitamente, tudo ficou claro. Como contou Tony Visconti, produtor e guitarrista parceiro musical de Bowie desde Space Oddity, disco lançado naquele longínquo ano de 1969, tratava-se de uma despedida. Um testamento musical, as últimas canções cantadas por um artista para se despedir do público, sem entregar as pistas nas primeiras frases. Bowie disse adeus nas entrelinhas, sem que ninguém percebesse seu real significado até a notícia de que ele havia partido.

O resultado foi um novo estouro atrás das pegadas deixadas pelo inglês ao longo de 7 canções e 41 minutos de música. Blackstar está perto de deixar Bowie novamente sentado no topo das paradas de vendas de discos no Reino Unido, depois de três anos – The Next Day, disco que marcou o retorno dele aos estúdios depois de 10 anos, lançado em 2013, também foi alçado ao primeiro lugar, encerrando um jejum de 20 anos sem ocupar essa posição, desde o álbum Black Tie White Noise.
De acordo com o site do órgão que regulamenta a venda de discos na Inglaterra e países vizinhos, o Official Charts, o álbum vendeu 43 mil cópias ao longo de três dias – até a própria segunda-feira, 11, dia em que a notícia da morte se espalhou. O número de vendas é substancialmente maior do que o segundo lugar na corrida, mantido em sigilo: o novo álbum de Bowie vendeu 25 mil cópias a mais do que o outro candidato. Se a previsão se confirmar no fim da semana, Blackstar será o 10.º álbum do inglês a ocupar o primeiro lugar no seu país natal.

O impacto foi direto também na música digital. Spotify e Deezer, dois dos grandes serviços de streaming no Brasil, revelam um salto exorbitante nas execuções de canções de Bowie. Na primeira, empresa de origem sueca, o crescimento foi de 2.822%, entre os dias 9 e 11 de janeiro. Na francesa Deezer, o número de streams no mesmo período subiu 1.670%. Em ambos os casos, a canção mais ouvida é Heroes, hit do período mais experimental do britânico, que dá nome ao segundo dos três discos gravados em Berlim, na segunda metade da década de 1970. Já na nova Lazarus, faixa na qual Bowie dá indícios de que a morte se aproximava, galgou posições nos dois serviços e foi direto para a terceira posição (Spotify) e segunda (Deezer).

No universo palpável, nas ruas, seja de São Paulo a Brixton, bairro londrino onde Bowie nasceu, fãs também se uniram para homenageá-lo. Cantaram versos de Starman, só que, agora, o personagem que vive no espaço da canção é o próprio homenageado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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