Ainda não é uma retrospectiva, mas a mostra Cor e Estrutura – Pinturas, Desenhos e Colagens, aberta a partir desta sexta-feira, 6, no Instituto Tomie Ohtake, cobre todos os períodos de produção da pintora paulistana Renata Tassinari. São 50 trabalhos em diferentes técnicas, realizados entre 1980 e 2013, que usam materiais diversos como chapas de acrílico, madeira, papelão e lixas. Das primeiras obras, pinturas que perseguiam a autonomia da cor e a luminosidade de Matisse, às mais recentes, em que a repetição de estruturas – placas de acrílico pintadas – remetem às questões levantadas pelo minimalismo, a obra de Renata Tassinari é marcada pela busca da harmonia de cores contrastantes, num jogo entre opacidade e transparência.
A curadora da exposição, Taíssa Palhares, diz que a mostra “busca sobretudo evidenciar o caráter original de sua pesquisa, assumindo como fio condutor a importância que o procedimento de colagem adquiriu na formação de sua poética”. Nos trabalhos do primeiro período, isto é, dos anos 1980, esse procedimento é marcante, especialmente pela aglutinação de materiais como lixas, papelão, óleo e madeira sobre a tela – que revelam sua admiração pela pintura pop de Jasper Johns. Nos anos 1990, a forma perde seu protagonismo e a cor se afirma. Há uma busca incessante do equilíbrio, que a divisão vertical ou horizontal das telas acentua, a exemplo das melhores pinturas de Eduardo Sued, que marcam essa fase de sua pesquisa, como confirma a artista.
Aparentemente simples, sua pintura se insere numa tradição pictórica que começa no modernismo e segue os passos de contemporâneos como a canadense Agnes Martin e o americano de origem irlandesa Sean Scully, ambos artistas abstratos que ajudaram a restituir a crença numa pintura afirmativa, ligada ao sensorial.
Renata Tassinari lembra da primeira série de telas, realizada justamente há 30 anos, em que ela “desconstruía” uma fruta, levando, em 1986, a uma pintura que evocava os mestres do expressionismo abstrato. Os anos 1990 marcam o advento de uma ordem que renega a matéria pictórica espessa do neoexpressionismo alemão e não busca mais a tridimensionalidade, e sim uma certa simetria entre as cores, ainda que por meio do contraste entre elas. Na virada do século, a ordenação geométrica das telas acentua as diferenças entre os campos, propiciando ao espectador áreas de repouso em tons baixos, em oposição ao cromatismo vibrante de outras zonas.
“Eu quero que minhas pinturas tenham a alegria da cor das telas de Matisse, e considero mesmo que sou uma colorista.” Entre o modernismo de Volpi e a arte neoconcreta de Lygia Clark e Willys de Castro, ela fica com todos. Exemplo disso será sua próxima exposição individual, em março, na Galeria Pilar, em que Renata Tassinari vai exibir uma instalação que chamou de Lanternas, em homenagem à capela de Ronchamp, projetada há 60 anos por Le Corbusier. Nela, a luz intensa que emana das chapas pintadas parece vir de trás, provocando uma espécie de desmaterialização arquitetônica, como na capela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.