Variedades

Obras do SP Urban ficam expostas dezembro

Uma imagem que continua a aparecer na visão e na mente depois que a imagem original desaparece. Falando assim, parece um experimento futurista, mas esse é um efeito neurológico chamado “afterimage”, pelo qual a maioria das pessoas já passou seja em uma brincadeira ou na arte. O Festival SP Urban, que fica em exibição na Avenida Paulista até o próximo dia 7, se inspirou no fenômeno para refletir sobre a efemeridade dos tempos modernos. Oito nomes expoentes da arte digital foram convidados a produzir obras que pensem o que fica no imaginário em meio ao incessante fluxo de informações e mudanças tecnológicas na atualidade.

Por muito tempo, apenas se interpretou o fenômeno da “afterimage” do ponto de vista físico. Mas, principalmente após a publicação do livro “Teoria das Cores” pelo escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe no século XIX, se descobriu que as experiências pessoais de cada observador influenciam no processo. Foi este aspecto subjetivo do efeito que as curadoras do SP Urban, Marília Pasculli e Tanya Toft, sugeriram que os artistas abordassem. “Tentamos puxar mais para o lado humano do “afterimage”, qual é o rastro que essa sociedade está deixando com essa evolução tecnológica tão acelerada”, explicou Marília.

Muitos dos artistas convidados utilizaram a temática apenas como inspiração conceitual, mas a equipe do agrupamento Andar7 fez um projeto para também aplicá-lo na prática. A obra “Retinamérica” propõe aos espectadores atuarem como VJs e mixar imagens que remetem a símbolos latino-americanos. As figuras são formadas por cores complementares gerando um dos tipos de “afterimage”, a persistência retiniana. Assim, quando se fecha os olhos, é possível continuar a ver as cores observadas. Para além do efeito visual, o objetivo da dupla foi provocar no público uma pós-imagem teórica, encontrando novos significados em iconografias que estão acostumados a ver, como a bandeira brasileira. “Através da persistência retiniana, queríamos trabalhar com esses símbolos que são reconhecíveis, mas, ao mesmo tempo, são desconhecidos”, explicou Luciana Ramin, uma das artistas do Andar7 responsáveis pela obra.

Se “Retinamérica” induz à permanência das imagens, a instalação “0.25 FPS”, de Thiago Hersan e Radamés Ajna, busca reproduzir a rapidez do seu desaparecimento na era digital. A obra propõe que pedestres fiquem em frente a um espelho localizado próximo ao edifício da Fiesp, na Avenida Paulista. Em intervalos de quatro segundos, a câmera 0.25 FPS tira fotos desses pedestres, o prédio pisca, exibe a imagem, que logo some. Uma alusão à velocidade com que representações se perdem no fluxo sem fim de publicações nas redes sociais.

As obras do SP Urban ficarão expostas até o dia 7 de dezembro na fachada do edifício do FIESP e do Sesi-SP e em um estande montado na travessa em frente ao prédio, a Alameda das Flores. Apesar da diferença nas propostas entre as obras, Marília chama a atenção para o fato de que existe em todas elas uma “afterimage”, resultado da interação do público. E é a passagem dessa ilusão de ótica à permanência no imaginário dos espectadores o principal objetivo do festival.

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