Século clássico, o Quinhentos produziu gênios como Michelangelo e Rafael. Se o primeiro, como observou Argan, fez da relação do homem com Deus uma densa tragédia, Rafael entendeu a arte como um fim em si mesma. São duas concepções que se chocam, mas uma não vive sem a outra. Literalmente. Em sua obra-prima Escola de Atenas (1509-11), Rafael retratou Michelangelo e outros artistas com quem conviveu ao lado de filósofos antigos como Platão e Aristóteles. Esse afresco, que está na Stanza della Segnatura, no Vaticano, agora pode ser visto numa exposição multimídia graças à alta tecnologia. Chama-se Magister Raffaello e está em cartaz de hoje até 12 de dezembro no Museu de Arte Brasileira da Faap.
Promovida pelo Consulado-Geral da Itália com o apoio do Instituto Italiano de Cultura, em homenagem aos 500 anos da morte de Raffaello Sanzio (1483-1520), a exposição, que tem curadoria do historiador Claudio Strinati, é uma jornada imersiva no Renascimento italiano. Traz não só grandes obras de Rafael em projeções que mostram em detalhes cada uma delas como explica o contexto em que foram produzidas e explora o processo de feitura, graças à intervenção artística da ilustradora Eva Montanari.
Como se trata de uma exposição para todas as idades, a ilustradora Montanari conta um pouco da vida de Rafael por meio de imagens, como o pintor, ainda criança, desenhando na casa do pai, o poeta e também pintor Giovanni Santi, o jovem Rafael entrando no Palácio Ducal de Urbino, ou, ainda, explorando a Capela Sistina com Bramante. O cônsul da Itália em São Paulo, Filippo La Rosa, estimulando estudantes que visitarão a mostra, vai distribuir álbuns de figurinhas para que guardem na memória esse primeiro contato com o grande pintor renascentista.
Estão representadas na exposição multimídia algumas de suas maiores pinturas, além da citada Escola de Atenas, que o cônsul viu pela primeira vez aos 11 anos, um afresco que evoca a permanência histórica do pensamento platônico. Rafael viveu pouco (37 anos), mas teve a sorte de ter grandes mestres, como Perugino, com quem aprendeu a técnica do afresco.
<b>INFLUÊNCIA</b>
A marca dessa influência é transparente numa das obras de maior destaque da exposição, O Casamento da Virgem (1504), que integra o acervo da Pinacoteca de Brera, em Milão. Nela se vê a precisão arquitetônica, a delicadeza das figuras, a fidelidade às proporções clássicas e, principalmente, a simplificação formal. Algo diferente do que seria o seu período florentino.
A exposição passa por todos os períodos da vida de Rafael. Da época em que viveu em Florença se nota, em particular, a influência de Da Vinci em suas madonas de traços sutis e gestos suaves. Do período final é possível ver uma reprodução da tela Autorretrato com um Amigo (1520), que faz parte da coleção do Louvre, e a célebre Transfiguração (1518-1520), do Museu do Vaticano, última imagem que o visitante da exposição vai levar consigo.
A pintura acompanhou o cortejo fúnebre de Rafael há 500 anos. É possível imaginar o que ele teria produzido se a morte não o tivesse levado tão cedo, pois a serenidade predominante em suas madonas não está presente nessa obra derradeira, uma inquietante antecipação do barroco. O cenário é escuro e o céu parece abalado por uma explosão.
É só comparar com uma de suas últimas telas do período florentino, a Madona do Pintassilgo (1507), em que a natureza é pacífica e os meninos Jesus e João Batista brincam com o passarinho, observados pela Virgem Maria, todos enquadrados segundo um sistema compositivo triangular, como o de Da Vinci. Ele pode ser facilmente decomposto pela tecnologia do aplicativo desenvolvido pela empresa que concebeu a mostra.
"Queremos mostrar a beleza da arte italiana do Renascimento, mas, ao mesmo tempo, traçar uma relação entre as cidades em que essas obras foram produzidas e a tradição artesanal que as cerca", diz o cônsul italiano diante de um mapa que mostra a Toscana e regiões próximas logo na primeira das seis zonas temáticas que constituem o itinerário da exposição – cidades como Urbino, província de Pesaro, onde nasceu Rafael, e Città di Castello (região da Úmbria), onde o pintor executou sua primeira obra-prima, O Matrimônio da Virgem. Produzida pela companhia italiana Magister Art, Magister Raffaello reúne 40 obras do pintor, destacando seus primeiros anos na Úmbria, a fase intermediária em Florença e a derradeira, em Roma.
<b>Serviço</b>
Magister Raffaello
Museu de Arte Brasileira da Faap.
Rua Alagoas, 903, tel. 3662-7198. Todos os dias (exceto 3ª), 10h/18h. Gratuita. Até 12/12
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>