O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que as ações com potencial para aumentar os gastos públicos em tramitação no Congresso são motivo de preocupação. Em entrevista à GloboNews, ele disse compreender os pedidos "meritórios" por parte da sociedade e do Congresso para investimentos em determinadas áreas, mas pontuou que o governo não tem espaço para renúncia de receitas ou ampliação de gastos públicos na atual situação fiscal.
Ceron ainda frisou que o governo tem um compromisso "irretratável" com a área fiscal do país e apontou que novas medidas de cunho fiscal para lançamento em "momento oportuno" estão sendo analisadas.
Antes, o secretário do Tesouro Nacional já havia alertado que o Brasil tem muito espaço para reduzir a taxa básica de juros, a Selic, mas que o Banco Central só poderá avançar no ciclo de corte se houver reformas econômicas e diálogo entre os Poderes capazes de dar segurança ao afrouxamento da política monetária. "É importante que as sinalizações sejam corretas e bastantes claras, no sentido de ser irretratável com a recuperação fiscal do país", reforçou Ceron, durante entrevista à GloboNews.
Como exemplo de sua preocupação, ele citou as mudanças no regime previdenciário decorrente da desoneração da folha de pagamentos dos municípios.
"Não dá para ter retrocesso e precisamos avançar. A questão da Previdência é gravíssima, nós tivemos muito esforços para avançar com o regime de Previdência. Isso será discutido no Judiciário, mas preocupa enormemente", acrescentou Ceron.
Na avaliação do secretário do Tesouro Nacional, eventuais medidas que possam ser tomadas no ambiente doméstico e internacional e que conduzam para uma piora fiscal do Brasil podem conduzir o Banco Central a "outro tipo de postura na condução da Selic".
"Os próximos eventos contam na Selic, sejam no ambiente internacional, que está bastante estressado por causa dos juros americanos e da possibilidade de postergação do ciclo de relaxamento da política monetária, quanto também no cenário doméstico", afirmou o secretário em entrevista à GloboNews.
Ceron ainda complementou sua observação sobre os juros, dizendo que medidas que foram discutidas no Brasil e "que podem ter um impacto negativo" tendem a gerar mais impacto sobre o câmbio, elevar ainda mais a incerteza e consequentemente forçar o BC a ter outro tipo de postura em relação à política monetária, que no momento está num ciclo de afrouxamento.
A avaliação do secretário ocorre após o presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicar na quarta-feira que o aumento da incerteza no cenário econômico "talvez signifique taxas de juros altas por mais tempo".