Mesmo com o crescimento econômico robusto dos anos 2000, a produtividade brasileira praticamente se estagnou na última década e esse é um dos principais fatores que colaboram para que a atividade não consiga retomar a força no País, avalia o estudo Perspectivas para o Desenvolvimento Global, divulgado no início do mês pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O estudo tem um capítulo inteiro dedicado ao países do Briics (Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e África do Sul), no qual os autores afirmam que a produtividade da mão-de-obra e a produtividade total dos fatores (PTF) – que refletem o quanto a economia produz com a mesma quantidade de capital e horas trabalhadas – ainda estão abaixo daquelas dos países desenvolvidos. Todos os países do Briics têm níveis de produtividade de cerca de 10% ou menos que nos EUA. No Brasil, esse porcentual caiu de 12,1% em 2000 para 11,1% em 2008, sendo 7,4% no setor manufatureiro e 11,8% em serviços.
A análise aponta que o boom nos preços das commodities nos últimos anos pode ser um lado ruim. Apesar de ter estimulado o crescimento, acabou fazendo com que o País se concentrasse na exportação de matérias-primas, reduzindo a diversificação das vendas externas.
Apesar de o Briics ter aumentado as importações de bens de capital, isso não se traduziu em todos os países em exportações mais fortes de produtos com maior valor agregado. É o caso brasileiro, que investiu esse conhecimento adquirido de fontes externas em processos para aprimorar principalmente a extração de recursos naturais. Além disso, aumentou a fatia das importações de bens de consumo, o que ilustra que o crescimento desses países na última década tem sido basicamente motivado pelo consumo.
“Para o forte crescimento observado pelo Brasil na última década ser sustentável, é preciso um crescimento mais forte da produtividade e uma acumulação de capital mais rápida”, diz a OCDE. O estudo aponta que o Brasil tem um setor manufatureiro bem diversificado. Entretanto, a competitividade internacional impede que diversos segmentos se tornem motores de crescimento.
O estudo aponta que a melhora geral na produtividade tem sido muito pequena para compensar os significativos aumentos salariais decorrentes de um mercado de trabalho apertado e a escassez de mão-de-obra qualificada. Além disso, a competitividade no Brasil pode estar sendo restringida por gargalos em recursos humanos qualificados e na infraestrutura, além de altos custos administrativos e a proteção de indústrias locais.
Desafios
Para elevar a produtividade, o Brasil tem vários desafios. Além de melhorar o nível da educação, a OCDE cita também o aprimoramento na infraestrutura de portos, aeroportos e rodovias. “Embora o Programa de Aceleração do Crescimento tenha levado a um aumento dos investimentos, especialmente em rodovias, muitos projetos continuam inacabados devido a problemas de financiamento ou atrasos em razão de dificuldades no planejamento”, diz o estudo.
A burocracia também é alta comparada com os padrões internacionais, com o Brasil ficando atrás de países como Chile, México, Colômbia, Rússia, China e África do Sul em rankings elaborados pela OCDE e também pelo Banco Mundial. Outro fator que restringe a produtividade é a elevada carga tributária, que consome quase 70% dos lucros das empresas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.