Tudo começou em 1971 quando o município estava sob intervenção federal. Naquele ano, ocorreu a primeira Olimpíada Colegial Guarulhense (OCG), um dos eventos mais tradicionais da cidade, que envolvem todos os anos 20 mil alunos das redes pública e privada. Apesar de o Brasil estar às vésperas de sediar as Olímpiadas do Rio de Janeiro, em 2016, período em que o país deverá respirar esportes, Guarulhos pode não contar com os jogos neste ano. A Prefeitura não tem dinheiro para bancar a OCG.
A Secretaria Municipal de Esportes, pasta responsável pela realização da Olimpíada, cujas inscrições deveriam ocorrer a partir de 3 de agosto, já jogou a toalha. O GuarulhosWeb apurou que a pasta não conta com os R$ 450 mil necessários para a realização dos jogos, dinheiro que inclui o processo logístico e infraestrutura do evento, como transporte e alimentação. Para piorar a situação, por iniciativa do prefeito Sebastião Almeida (PT), a Comissão de Ajuste Financeiro decidiu, na semana passada, coretar R$ 1,7 milhão do orçamento daquela Secretaria.
Com a perda deste valor, o calendário esportivo do segundo semestre ficou totalmente comprometido, inclusive a realização da 8ª Corrida Internacional da Cidade de Guarulhos, que tem custo aproximado de R$ 350 mil, pode não ocorrer.
O secretário municipal de Esportes Wagner Freitas afirmou na segunda-feira que neste ano não haverá Olímpiada Colegial em Guarulhos. Diante da repercussão negativa, Almeida entrou no jogo e declarou que seu subordinado não está autorizado a falar sobre o assunto. Porém, não garantiu nada. Dirigentes esportivos, ex-atletas e empresários da Educação não se conformam com o fato e já anunciaram que vão à luta para garantir a realização da OCG mesmo sem a chancela da Prefeitura.
Para Almeida, Secretaria não repassou prioridades
"Em nosso planejamento, solicitamos a cada uma das secretarias uma relação dos eventos considerados prioritários para a análise dos investimentos. Até hoje, estamos aguardando as prioridades a serem executadas pela Secretaria Municipal de Esportes. As Olimpíadas Colegiais continuarão a receber muita atenção de nosso governo", respondeu nesta quarta-feira o prefeito Sebastião Almeida ao GuarulhosWeb, por meio de sua assessoria.
O GuarulhosWeb apurou que a OCG envolve custos altos que incluem até o transporte dos alunos até os locais de competições. Por volta de 70% a 80% dos atletas utiliza esse transporte que beneficia perto de 150 participantes. Sem essa opção, estima-se que somente 20 escolas, apenas da região central, teriam condições de disputar a OCG.
Prefeitura não teria de onde tirar dinheiro
O Orçamento Municipal para 2015, estimado em algo um pouco acima dos R$ 4 bilhões para todo o exercício, determinou 0,71% para a Secretaria de Esportes, o que representaria R$ 24 milhões para realizar suas atividades durante o ano. Atualmente este índice de representatividade foi reduzido com os sequentes cortes para 0,43%. De acordo com informações obtidas pelo GuarulhosWeb, com esta verba disponível é possível apenas fazer o pagamento dos funcionários da Secretaria e fornecedores.
O atleta olímpico Wilson David dos Santos, um defensor das causas esportivas de Guarulhos, inconformado com a possiblidade do cancelamento da OCG, busca soluções. Ele informou que, para que a Prefeitura mantenha a realização dos jogos, seria necessário que a Secretaria de Governo abrisse um crédito adicional em caráter de urgência. Mas isso não é certo, já que os cortes promovidos por Almeida se estendem a todas as pastas.
Ginásios estão fechados ou abandonados
Alguns dos principais palcos de competições da OCG se encontram fechados ou abandonados. O João do Pulo, no complexo exportivo localizado no Bela Vista, fechou para reformas ainda em 2013 e nunca mais abriu. O maior deles, o Paschoal Thomeo, conhecido como Thomeozão, no Bom Clima, está interditado desde o ano passado porque não conta com liberação para uso pelo Corpo de Bombeiros. O Fioravante Iervolino, depois de receber verbas federais para reformas, foi cedido para uma entidade privada, que instalou no local a sede de um clube de motociclistas, o Falcões Moto Clube.
Jogos surgiram para integração entre escolas
A história dos jogos revela que seu surgimento se deu durante a intervenção federal no município na década de 70, quando o interventor Jean Pierre Herman de Moraes Barros assumiu o comando do Poder Executivo. Neste período, guarulhenses acreditavam ser possível unir as escolas da cidade com a promoção dos jogos para proporcionar entre elas confraternização e integração.
E dessa integração surgiram vários valores em diversas modalidades esportivas. Entre elas está a ginasta da Seleção Brasileira da categoria, Rebeca Andrade, que integrava a seleta equipe que irá representar o País nos jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá. No entanto, Rebeca acabou substituída na última terça-feira, 30 de junho, por Jade Barbosa em função de uma ruptura no ligamento cruzado do joelho, o que deve afastá-la das atividades até o final deste ano.
Ao longo dessas mais de quatro décadas, foram muitos atletas que se destacaram durante as OCGs. Diversos seguiram a carreira esportiva, outros hoje são empresários ou cidadãos comuns, que têm muitas histórias para contar em relação aos jogos, inclusive como a prática de esportes ajudou eles a se tornarem cidadãos de bem.