Variedades

Ode a Mahler nos 80 anos de Karabtchevsky

“Será que precisamos morrer para que o público nos permita viver?”, perguntou-se Mahler numa carta de 1904. Maestro de sucesso, maior figura da vida musical vienense, queixava-se de sua música não ser bem recebida. Em outro texto de nove anos antes, explicou por que quase não compôs música de câmara: “Quanto mais a música se desenvolve, mais complicado fica o aparato para expressar as ideias do compositor”. A terceira citação refere-se ao fato de ter dado três explicações extramusicais para sua segunda sinfonia e depois tê-las rejeitado. Mahler queria sempre contar uma história, mesmo que isso não o agradasse porque o aproximava de seu maior rival Richard Strauss. “Fora com os programas; basta abrir os ouvidos e o coração e entregar-se ao rapsodo.”

É provavelmente por isso que Theodor Adorno, filósofo estudioso da música do século 20, qualifica suas sinfonias assim: “Música definida como romance”. Mesmo quando não há texto, sua música sempre quer contar uma história.

De fato, ele se dedicou a apenas dois gêneros: o lied e a sinfonia. Mais do que isso. Começou a misturá-los de modo genial na 2ª sinfonia, a obra preferida de Isaac Karabtchevsky, por ele escolhida para comemorar seus 80 anos domingo, na Sala São Paulo. Se o Andante e o Scherzo respiram vida, o Finale sonha com a superação da morte (Mahler ouviu num velório o hino Ressurreição por um coro de meninos e o incorporou à sinfonia).

A ocasião era basicamente festiva. Além dos discursos e tributos, suas duas orquestras no palco -Heliópolis e Petrobrás Sinfônica -, solistas (a soprano Lina Mendes e a mezzo-soprano Edineia Oliveira) e três corais. Palco superpovoado, plateia barulhenta.

A performance alcançou bons momentos nos movimentos menos complicados, como o Andante e o Scherzo intermediários. No primeiro e no derradeiro, ambos monumentais e caudalosos, o resultado não passou do razoável, pela junção dos grupos orquestrais heterogêneos. Lina Mendes, revelação vocal deste ano, foi muito bem, assim como a mezzo Edineia Oliveira. Os corais não comprometeram.

Mas o destaque inevitavelmente vai para Karabtchevsky, que vive um momento iluminado. Rege com uma economia de gestos impressionante. Ao mesmo tempo, é claro em suas indicações (detalhe básico quando se trabalha com orquestra de jovens) sem ser óbvio. Extraiu de Mahler o que o compositor chamava de suas “ideias poéticas” musicais. Isso não é fácil. Longa vida ao maestro, que exibe, aos 80 anos, uma vitalidade extraordinária. Pois além das orquestras de Heliópolis e Petrobrás, dirige a do Teatro Municipal do Rio.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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