Estadão

Oito atletas cubanos desertam após Jogos Pan-Americanos de Santiago

Oito atletas cubanos ficaram no Chile para pedir asilo, ou refúgio, após o encerramento dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, informaram os advogados dos esportistas e o Ministério do Interior do país sul-americano.

Segundo o subsecretário do Ministério do Interior, Manuel Monsalve, 412 membros da delegação cubana entraram no Chile para a disputa do Pan. Destes, 391 voltaram para Cuba e 21 permanecem em território chileno. Sete pediram asilo e um fez a solicitação de refúgio.

"Uma pessoa, de nacionalidade cubana, diferente das sete, fez o pedido de refúgio ao Serviço Nacional de Imigração. A lei de refúgio funciona com o visto temporário de oito meses e aceitando o início do processo de refúgio", explicou Monsalve.

Segundo a imprensa chilena, os que pediram asilo são seis integrantes da equipe feminina de hóquei sobre grama e um corredor da prova com barreiras. "A intenção principal deles é permanecer no Chile", reforçou o advogado Mijail Bonito, que representa os atletas. Assumi este caso "por uma questão pessoal, porque nasci em Cuba", acrescentou Bonito, que foi assessor de política migratória do governo do ex-presidente chileno Sebastián Piñera.

Segundo o advogado, nenhum deles está em Santiago, mas na casa de amigos, de grupos de apoio em três regiões diferentes do país. Os atletas têm visto para permanecer no Chile até 12 de novembro, mas estão sem o passaporte. Os documentos foram retidos pelos dirigentes esportivos, ao entrarem no país, em meados de outubro.

A grave crise econômica que Cuba atravessa provocou um êxodo em massa nos últimos dois anos, principalmente de jovens.Mesmo sem seus atletas de elite, Cuba encerrou o Pan no Top 5 do quadro de medalhas, atrás dos Estados Unidos, Brasil, México e Canadá.

A delegação cubana conquistou 30 medalhas de ouro, 22 de prata e 17 de bronze, número levemente inferior ao das conquistadas nos Jogos de Lima, há quatro anos.

OUTROS DESERTORES CUBANOS
Segundo dados oficiais, de 2022 até agora, 187 esportistas deixaram Cuba, entre eles vários boxeadores, incluindo o astro Andy Cruz, por muitos considerado o melhor boxeador do país.

Ouro olímpíco em Tóquio-2020, Cruz foi expulso em 2022 do sistema esportivo de Cuba após tentar deixar a ilha em uma balsa. Alguns meses depois, conseguiu emigrar de maneira legal e, em 16 de julho, conquistou um título internacional de peso leve da Federação Internacional de Boxe (FIB) em uma disputa em Los Angeles, nos Estados Unidos.

O êxodo de esportistas cubanos aumentou com a atual crise econômica, a pior em três décadas, mas não é um movimento novo. Depois dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, quatro desertaram: o técnico de ginástica artística Lázaro Lamelas, os boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara e o jogador de handebol Rafael Capote. Lamelas começou uma nova vida no Brasil, onde vive até hoje.

Depois do Pan de Toronto, em 2015, ao menos 30 atletas cubanos desertaram. A maioria era integrante do time masculino de hóquei. No ano passado, três membros da delegação de Cuba fugiram após a disputa do Mundial de Atletismo, realizado em Eugene, nos Estados Unidos.

As atletas Yiselena Ballar, do arremesso de dardo, e Yaimé Pérez, do arremesso de disco, e o fisioterapeuta Carlos González abandonaram a concentração da delegação após o término da competição, de acordo com o Instituto Cubano de Esportes (Inder).

No Chile, Santiago Ford, nascido em Cuba e naturalizado chileno no final do ano passado, protagonizou um dos momentos mais emocionantes do Pan de Santiago ao ganhar a medalha de ouro na disputa do decatlo.

Com a voz embargada, ele lembrou que entrou no Chile caminhando pelo deserto após ter deixado a ilha em 2018, viajou de avião até a Guiana e por via terrestre chegou ao país sul-americano, ao qual dedicou sua vitória.

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