O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, abandonou sua imparcialidade tradicional com relação às medidas adotadas por diferentes governos e declarou que está “claramente preocupado com o anúncio dos planos dos EUA para aplicar tarifas sobre o aço e o alumínio”. O principal temor do diplomata é de que a ação seja rebatida por outros países com a aplicação de retaliações, o que abriria uma guerra comercial entre as maiores economias do mundo.
Em Genebra, a avaliação é de que a onda protecionista nos EUA e a possibilidade de medidas que serão adotadas por governos em todo o mundo como resposta representam um dos maiores desafios para a OMC em seu papel de árbitro internacional.
A crise ocorre justamente num momento em que os tribunais da entidade estão à beira da paralisia, diante de uma ação orquestrada pelo governo americano para frear a nomeação de novos juízes.
Não por acaso, Azevêdo alerta contra uma multiplicação de barreiras pelo mundo. “O potencial para uma escalada é real, conforme vimos a partir das respostas iniciais de outros países”, declarou, numa alusão às promessas dos europeus e de outros governos de responder com mais tarifas contra produtos americanos.
“Uma guerra comercial não é de interesse de ninguém”, insistiu. Segundo ele, a OMC vai acompanhar a situação “de muito perto”. Donald Trump, presidente americano, anunciou planos de imposição de uma taxa de 25% para as importações de aço e de 10% para o alumínio, numa medida que visa proteger a indústria local. Os detalhes, porém, só serão conhecidos na semana que vem.
Azevêdo vinha evitando criticar o governo americano nos últimos meses. Ao assumir o cargo de presidente americano, Trump atacou a OMC, afirmando que a ignoraria se ela fosse contra seus interesses.
A estratégia do brasileiro era a de não criar um clima de tensão entre sua entidade e o governo americano, sob o risco de ver um abandono completo do sistema multilateral por Trump.
Em diferentes partes do mundo, o tom nesta sexta-feira, um dia após o anúncio de Trump, era de preocupação em relação aos rumos do comércio global. O governo australiano falou sobre o risco de uma onda de retaliações, enquanto Japão, Tailândia e Coreia do Sul alertaram para a ameaça de uma onda protecionista como resposta à decisão de Trump.
Exportadora de apenas 2% do consumo americano de aço, a China também se mostrou preocupada com um “efeito dominó” das medidas, com o fechamento de outros mercados. “A China pede aos Estados Unidos que não recorram às medidas protecionistas e que respeitem as regras do comércio multilateral”, declarou Hua Chunying, porta-voz da chancelaria chinesa. “Se outros países seguirem o mesmo passo, isso poderá ter um impacto grave sobre a ordem do comércio mundial.” A China, porém, é vista como parte do problema do excesso de aço no mercado global.