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Onça resgatada no Pantanal deixará de ser monitorada

Ousado está prestes a começar uma nova fase de sua vida selvagem, no Pantanal do Mato Grosso. A onça-pintada tem sua saga narrada desde que foi descoberta pelo <b>Estadão</b> com queimaduras de segundo grau causadas pelos incêndios que devastaram o bioma, em 2020, e levada para tratamento em Goiás.

Há mais de um ano sendo rastreado em seu hábitat por um colar tecnológico, o animal que virou símbolo da resiliência pantaneira e do descaso da política ambiental do governo estará livre do dispositivo a qualquer momento. O fim do monitoramento marca uma vitória de pesquisadores, voluntários, ambientalistas e da própria onça. Da morte iminente à beira de um rio, ela foi salva e pôde oferecer informações preciosas sobre as condições do Pantanal após os incêndios.

O colar foi programado para enviar por satélite a posição exata do felino a cada hora. Após 39 dias sendo tratado de ferimentos, Ousado foi devolvido ao Pantanal em 20 de outubro de 2021. Desde então, os computadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) recebem sua posição. A programação de 400 dias de rastreio já foi vencida. O colar ainda não caiu porque são comuns alguns lapsos na contagem do prazo em razão de falhas no sinal de GPS. O dispositivo custa cerca de US$ 3 mil e, a depender do local em que cairá, será recuperado para ser reutilizado em outros animais.

Ao longo de mais de um ano, os dados gerados pelo deslocamento de Ousado possibilitaram conhecimento sobre o comportamento da onça sobrevivente e sobre o Pantanal. "Conseguimos comparar com outros machos da espécie. Todos os parâmetros estão dentro do padrão. Foi acertada a decisão de o soltarmos no mesmo lugar em que ele foi resgatado", diz Ronaldo Morato, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do ICMBio.

As descobertas serão usadas para publicações científicas ligadas à conservação do Pantanal. As informações preliminares permitem algumas conclusões positivas. A primeira é a de que Ousado manteve como "área de vida" um território com tamanho muito semelhante ao esperado para uma onça macho da região. "Mesmo após o incêndio, não houve necessidade de ele aumentar seu território pois havia recursos suficientes para ele se manter. É um bom indício de que o Pantanal mostrou resiliência, manteve o número de presas, e esse animal não precisou aumentar seu território", afirmou Fernando Tortato, pesquisador da ONG Panthera, que tem acesso aos dados de satélite.

Ousado vive em uma área de cerca de 149 km² entre o Parque Encontro das Águas e as fazendas Jofre Velho e São Bento, no município de Poconé (MT). Caminha entre 2 e 3 km diariamente. Vez ou outra, atraído por fêmeas no cio, faz jornadas dez vezes maiores. É um namorador, conta a guia ambiental Eduarda Fernandes. "O Ousado é responsável por boa parte das crias que tivemos em 2021", diz a garota de 22 anos, líder da expedição que providenciou o resgate.

<b>Estrela</b>

Ousado virou uma estrela no Pantanal. Os turistas querem saber dele e festejam quando o avistam nos remansos com o apetrecho tecnológico no pescoço. Desde que voltou ao seu hábitat, foi visto ao menos 20 vezes por grupos de visitantes e biólogos. Os guias turísticos contam a saga da onça, iniciada em 12 de setembro de 2020.

Durante a cobertura dos incêndios, o <b>Estadão</b> seguiu informações de nativos e localizou a onça com queimaduras à margem do Rio Corixo Negro. Uma rede de voluntários fez o resgate. O passo a passo foi registrado em textos e imagens, do disparo da zarabatana com o tranquilizante até o bicho ser posto no barco que o levaria a uma base de apoio. Mais tarde, o tratamento veterinário moderno que teve no NEX No Extinction, uma ONG de Goiás localizada a 1,2 mil km do Pantanal. Ao menos 17 milhões de vertebrados não tiveram a mesma sorte e morreram nos incêndios, segundo estudo de órgãos como Embrapa Pantanal e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

<b>Cheia</b>

É tempo de cheia no Pantanal. As planícies outrora devastadas por um fogo que não se via desde os anos 1970 deram lugar a imensos alagados. As consequências dos incêndios de 2020, porém, ainda estão ali. Uma grande quantidade de matéria orgânica morta ficou depositada, o que pode tornar o próximo fogo mais devastador. "Com a chegada das chuvas, a vegetação ficou verde novamente, o que pode dar uma falsa impressão de que o pesadelo dos incêndios florestais na região é assunto do passado", diz Cátia Nunes da Cunha, doutora em Ecologia e Recursos Naturais e pesquisadora da UFMT. "Não tenhamos dúvida alguma: incêndios florestais ocorrerão com a mesma certeza da sazonalidade climática, e junto ao período de estiagem intenso" cursos Naturais e pesquisadora da UFMT. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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