Uma força-tarefa com 180 policiais se deslocou nesta quinta-feira, 14, para a fronteira do Brasil com o Paraguai, que convive com uma onda de execuções atribuídas ao crime organizado. Desde o último sábado, 9, oito pessoas foram assassinadas na região. Entre as vítimas estão um vereador brasileiro e a filha de um governador paraguaio. A facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e outros grupos criminosos disputam o controle das rotas do tráfico de drogas e armas na fronteira.
De acordo com o secretário de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, uma parte do efetivo da Operação Hórus, um projeto piloto do Programa Nacional de Segurança nas Fronteiras, do Ministério da Justiça, está sendo deslocada para a região. Compõem a força-tarefa policiais do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), Batalhão de Choque, Departamento de Operações de Fronteira (DOF), Polícia Rodoviária Estadual e agentes das delegacias especializadas da Polícia Civil.
Conforme Videira, esse é um policiamento extra, que vai se somar às forças policiais que já atuam na região. "Estamos enviando também um efetivo que não participa da operação Hórus. Além desses grupos especiais, reforçamos os efetivos ordinários das polícias civil e militar na região", disse. Na quarta-feira, 13, o Ministério do Interior do Paraguai e a Polícia Federal brasileira já haviam anunciado a instalação de um comando conjunto para a atuação das forças de segurança dos dois países na fronteira. "Nosso efetivo segue para lá sem prazo de retorno, para dar apoio às autoridades paraguaias no combate a esses crimes", disse.
Ainda segundo o gestor, as execuções mais recentes, em sua maioria, aconteceram do lado paraguaio. "Do nosso lado, tivemos o homicídio do vereador Farid Afif, de Ponta Porã, e passamos à delegacia especializada para esclarecer as circunstâncias do crime. Em princípio, esse homicídio não tem a ver com as mortes que aconteceram em Pedro Juan Caballero. Nossa intenção é evitar que esses criminosos venham se refugiar em território brasileiro", disse. O novo efetivo será distribuído na fronteira de Ponta Porã com Pedro Juan Caballero; de Coronel Sapucaia com Capitan Bado; de Paranhos com Ypehú, e de Sete Quedas com Pindoty Porã.
<b>Execuções</b>
No último sábado, 9, no ataque mais sangrento, quatro pessoas morreram após receberem mais de cem tiros quando saíam de uma festa, em Pedro Juan Caballero. Entre as vítimas estavam duas estudantes de medicina brasileiras e uma estudante paraguaia, Haylée Carolina Acevedo Yunis, de 21 anos, filha do governador do departamento (estado) de Amambay, Ronald Acevedo. O alvo seria o traficante de drogas Osmar Grance, de 29 anos, o Bebeto, também morto no ataque. No mesmo dia, em outra execução, o vereador Farid Afif (DEM) foi morto por pistoleiros em Ponta Porã.
Apesar da grande repercussão dessas mortes, as execuções não cessaram. Na segunda-feira, 11, o suboficial da Polícia Nacional do Paraguai, Pastor Niltos, foi assassinado em Yukeri Guaçu, localidade fronteiriça. No dia seguinte, o agente Hugo Ronaldo Acosta, de 32 anos, teve o carro cercado por pistoleiros e recebeu mais de 30 tiros. Acosta seria ligado ao ex-deputado Carlos Garcete, o Chicaro, executado dentro de casa no início de agosto. Na quarta-feira, 13, Juan Bosco Gomez morreu após ser alvejado por pistoleiros em Capitan Bado. O vereador Ismael Valiente e um idoso de 84 anos que estavam com ele foram baleados, mas sobreviveram.
A polícia paraguaia prendeu dez pessoas suspeitas de envolvimento na chacina de Pedro Juan, entre elas seis brasileiros que serão expulsos do país. Nesta quinta-feira, 14, a Polícia Nacional e o Ministério Público fizeram uma vistoria na Penitenciária Regional de Pedro Juan Caballero em busca de indícios da participação do narcotraficante Faustino Ramón Aguayo como mandante da chacina. Aguayo teria divergências com Bebeto devido à apreensões de carregamentos de drogas enviados ao Brasil.
A inspeção constatou que o prisioneiro desfrutava de regalias e estava em uma cela luxuosa na companhia de uma jovem de 22 anos. O diretor e o chefe de segurança foram afastados e a unidade será fechada até a transferência de presos ligados ao crime organizado. Já se descobriu também que a munição usada nas execuções fazia parte de um lote já apreendido pela polícia e entregue à Diretoria de Material de Guerra, mas que voltou para a mão de criminosos.
<b>Escalada de crimes</b>
Novos números divulgados pela Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul mostram que as dez cidades da fronteira com o Paraguai já respondem por 56% dos homicídios no Estado, que tem 79 municípios. De janeiro a setembro deste ano, 174 pessoas foram assassinadas na faixa brasileira da fronteira, enquanto no Estado todo foram 311 mortes. Os homicídios, na parte brasileira da região, cresceram 4,8% este ano, em comparação com o ano passado – no Estado, o crescimento foi de 0,6%.
Só em Ponta Porã, vizinha de Pedro Juan Caballero, foram assassinadas 34 pessoas, 9,7% mais que no mesmo período de 2020. Não há informações oficiais sobre o total de mortes do lado paraguaio, mas estima-se que o número seja maior do que no Brasil. Números divulgados pela polícia do Paraguai davam conta de 86 assassinatos de janeiro ao final de julho em seis municípios fronteiriços com o Brasil.
Dados mais recentes indicam que, apenas em Pedro Juan Caballero, a escalada da violência causou 21 mortes desde o início de agosto, o que eleva o total de mortes para mais de uma centena. Nove das execuções recentes são atribuídas aos "justiceiros da fronteira", espécie de esquadrão da morte que age na região.
Em junho deste ano a Polícia Federal do Brasil e a Polícia Nacional do Paraguai assinaram o acordo de cooperação institucional para a organização e estabelecimento de área de segurança bipartite na fronteira. Segundo o Ministério da Justiça do Brasil, o acordo permite maior aproximação entre os policiais dos dois países, tornando mais rápidas e confiáveis a troca de informações sobre os criminosos e apoio técnico, tático e científico às investigações.
Conforme o secretário Videira, já foram feitas várias operações conexas de combate ao crime organizado nos dois lados da fronteira. A troca de informações permitiu a apreensão de um grande volume de drogas no lado brasileiro.