Estadão

Onda de violência na África do Sul deixou ao menos 212 mortos, dizem autoridades

Os motins e saques na África do Sul deixaram 212 mortos até o momento, informaram nesta sexta-feira, 16, autoridades locais, acrescentando que a maioria das novas mortes aconteceram na região de Kwazulu-Natal, no leste do país. Outras seis vítimas foram registradas na região de Johanesburgo.

Embora Kwazulu-Natal tenha registrado 1.488 incidentes na noite anterior, a situação parece mais tranquila na região de Johanesburgo, e autoridades afirmam estar retomando o controle no país. "A situação gradualmente, mas firmemente volta ao normal", afirmou o Ministro da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, em uma entrevista coletiva nesta sexta-feira.

Em um sinal de retorno à estabilidade, duas rodovias estratégicas ligando o porto de Durban a Johanesburgo e a Cidade do Cabo reabriram nesta sexta-feira depois de ficarem fechadas por uma semana, anunciou Ntshavheni.

A polícia sul-africana investiga 12 suspeitos de estarem por trás do surto de violência. Na quinta-feira, o governo anunciou que "uma dessas pessoas já havia sido presa e a vigilância das outras 11 havia sido reforçada."

Nesta sexta-feira, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa afirmou que os motins e saques foram provocados e planejados. "Nós identificamos um bom número deles (responsáveis) e não permitiremos que a anarquia e o caos simplesmente ocorram em nosso país , disse, parado na entrada de um shopping saqueado e cercado por soldados.

Enquanto os tanques do exército passavam pelo destruído shopping Bridge City, Ramaphosa afirmou que o envio de 25 mil soldados poria fim à violência e ao furto desenfreado nas províncias de KwaZulu-Natal e Gauteng.

A agitação na África do Sul explodiu depois que o ex-presidente Jacob Zuma começou a cumprir uma sentença de 15 meses por desacato ao tribunal na última quinta-feira, 8. Ele se recusou a cumprir uma ordem judicial para testemunhar em um inquérito que investiga denúncias de corrupção sob seu mandato, de 2009 a 2018.

A agitação se transformou em uma onda de saques nas áreas dos municípios de duas províncias, Gauteng e KwaZulu-Natal, se estendendo para outras áreas municipais. Em Durban, manifestantes atacaram lojas de varejo e centros industriais onde esvaziaram armazéns e os incendiaram. Estruturas queimadas ainda ardiam nesta sexta-feira.

Em Gauteng, onde a ordem foi restaurada, as autoridades começaram a responsabilizar os saqueadores A polícia de Johanesburgo começou a recuperar bens roubados e a prender suspeitos.

Houve um aumento de pessoas tentando gastar dinheiro manchado de tinta verde, evidência de que as cédulas foram roubadas de centenas de caixas eletrônicos arrombados durante os tumultos, de acordo com o Centro de Informações de Risco Bancário Sul-Africano.

O Conselho de Igrejas da África do Sul propôs que o governo declarasse uma anistia limitada de duas semanas para que as pessoas pudessem devolver os bens roubados à polícia e não fossem acusadas.

<b>Escassez de mercadorias e custos de longo prazo</b>

O custo social e econômico de longo prazo da agitação começa a se tornar mais claro. O banco de Wall Street JPMorgan disse que a onda de violência forçaria a economia da África do Sul a se contrair 3% no terceiro trimestre e reduziria o crescimento anual.

O saque de lojas levou à escassez de produtos essenciais. O grupo estatal de logística Transnet disse que as operações nos portos de Durban e Richards Bay estavam melhorando, embora o fechamento de estradas e a escassez de combustível e alimentos estivessem restringindo sua cadeia de abastecimento. O varejista Massmart disse que os manifestantes saquearam 41 de suas lojas e dois centros de distribuição, com quatro locais danificados por incêndio criminoso.

O chefe da Statistics South Africa, Risenga Maluleke, disse que pode levar anos para reconstruir a infraestrutura danificada, e as pequenas empresas "terão dificuldade em se levantar das cinzas". Isso levaria a ainda mais desemprego, disse ele. A maioria das pessoas nas ruas eram jovens com poucas perspectivas de emprego e oportunidades de educação limitadas.

Metade dos sul-africanos vive abaixo da linha da pobreza e o desemprego atingiu um recorde de 32% nos primeiros três meses de 2021, devido em parte ao impacto da pandemia de covid-19. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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