Mundo das Palavras

Onde está o Brasil na Copa?

Coluna semanal do jornalista, doutor em Comunicação Social e professor Oswaldo Coimbra

Grandes tragédias, como o ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center de New York, ocorrido em 2001, são capazes de prender a atenção de muita gente, ao mesmo tempo, em inúmeros países, graças aos atuais recursos tecnológicos da Comunicação de Massa,.

Raras, no entanto, são as ocasiões nas quais a atenção do mundo inteiro parece se concentrar num único país quando nele nenhuma grave crise está ocorrendo. Mais raras ainda são as ocasiões nas quais esta atenção, dedicada num momento pacífico a determinado país, abarca diversas regiões suas e não somente uma única área onde algum evento esteja confinado. Estas ocasiões – verdadeiros tesouros do convívio interplanetário de nossos dias – tem se repetido a cada quatro anos graças às partidas de futebol entre equipes nacionais disputadas numa única nação em estádios situados em pontos vários dela.   

As populações destes locais que abrigam tais partidas, como é natural, alimentam a expectativa de obterem, através deste evento, ampla divulgação das belezas naturais e da cultura de sua terra propiciando assim a expansão de sua economia com o crescimento de seu setor de turismo por meio da geração de novas rendas e empregos, justa compensação aos pesados gastos com construções de estádios e vias de acesso  que lhes são impostos pela FIFA. Esta expectativa foi satisfeita em copas do passado com a inserção de imagens nas transmissões da Fifa sobre cada lugar onde os confrontos entre equipes de dois países ocorriam numa bela iniciativa que visava situar cada jogo num contexto físico-cultural específico.

Quando vários Estados brasileiros foram escolhidos para acolherem as partidas de futebol da atual Copa do Mundo muitos brasileiros se sentiram animados com tal expectativa otimista. Afinal, as regiões brasileiras onde as partidas da Copa estão sendo disputadas contrastam encantadoramente nas suas diversidades culturais, expressas em ambientes naturais e históricos originais, assim como em hábitos próprios de alimentação e até no modo singular de falar a língua portuguesa. Estamos prontos para atrair muitos turistas estrangeiros, com a complexidade de nossa formação cultural, pensávamos. Entretanto algo muito frustrador está ocorrendo com relação a esta expectativa, como já denunciou na Folha de São Ruy Castro, o brilhante biógrafo de Garrincha. Há poucos dias ele escreveu: “Quem imaginava que a Copa seria uma vitrine para o Brasil vender seu potencial turístico – com clipes espetaculares de paisagens brasileiras, antes e depois da transmissão dos jogos pelo pool controlado pela Fifa – já tirou o cavalo da chuva. As vinhetas oficiais se limitam a um desenho chinfrim e a um rápido sobrevoo de cada cidade-sede, logo cortando para o estádio visto de cima e mergulhando direto no gramado…Com isso, a plateia de bilhões da Copa continuará alheia à Floresta Amazônica, às cidades mineiras, às igrejas baianas, às cataratas do Iguaçu, ao Pantanal, ao Círio de Nazaré, ao bumba meu boi, ao Carnaval etc. Nem mesmo a orla do Rio mereceu um singelo take… Daí que as únicas imagens oficiais da Copa são as que se passam dentro das "arenas". E nada mais parecido com uma "arena" da Fifa do que outra "arena" da Fifa.”

Por que isto estará acontecendo, se não existe impossibilidade técnica nas transmissões das partidas que justifique, como ficou demonstrado em copas anteriores? 

 

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