No futebol brasileiro, as casas de apostas se tornaram onipresentes. Hoje, elas patrocinam ou negociam patrocínio com todos os 20 clubes da Série A, seja o patrocínio principal ou em outras áreas do uniforme. A Copa do Brasil é patrocinada pela Betano. A Betnacional é uma das patrocinadoras da transmissão do Campeonato Brasileiro na Rede Globo. Ou seja, essas empresas têm participação cada vez maior no principal esporte brasileiro.
É uma relação que desperta alguma desconfiança, porém. Recentemente, o Ministério Público de Goiás anunciou uma investigação sobre um esquema de manipulação de resultados de jogos a Série B, em 2022, com a finalidade gerar ganhos aos apostadores.
Para quem acompanha o setor, outros problemas, como lavagem de dinheiro, existem e devem continuar existindo, mas é preciso regulamentar as apostas até mesmo para facilitar a fiscalização.
"Se houver um volume grande de apostas incomuns, não há uma regulamentação (para isso ser fiscalizado). Essas apostas podem indicar lavagem de dinheiro ou tentativas de manipulação de resultados. Não sabemos qual é a obrigação de reportar atividades incomuns em casas de apostas. Sem isso, não há punição. Isso coloca todo o setor em risco. A falta de regulamentação deixa as empresas à deriva, sem saber direitos e deveres", afirma Lucas Albuquerque Aguiar, advogado criminalista do escritório Davi Tangerino Advogados.
Para os apostadores, segundo os advogados, se houver algum problema com pagamento de prêmios, por exemplo, fica muito mais difícil reclamar ou entrar com processo, já que as empresas não têm representação aqui.
Marcos Sabiá, CEO do galera.bet, diz que o movimento de regulamentação é "urgente" e "extremamente positivo", por definir os marcos legais de operação, assim como a proteção a apostadores, às casas de apostas e ao mercado esportivo do País contra fraudes e outras atividades ilícitas. "Entre os diversos benefícios da regulamentação, entendemos que se destacam o estabelecimento de regras claras e controles mais efetivos para prevenir ilícitos como o uso indevido de dados pessoais, práticas de lavagem de dinheiro, ou marketing que fomente o jogo irresponsável", disse. Segundo ele, haverá haveria também a possibilidade de se organizar "um sistema robusto de monitoramento da integridade das partidas nacionais". "No final das contas, com os apostadores de boa-fé, (as empresas) são as principais vítimas das fraudes esportivas", afirma.
<b>INVESTIMENTOS.</b> O diretor de marketing da Casa de Apostas, Hans Schleier, afirmou que o crescente número de investimentos das empresas de apostas no futebol vem gerando resultados positivos para ambas as partes.
"Estamos com boas expectativas de que se concretize em um futuro próximo. Observamos movimentações acontecendo frequentemente no Legislativo e acreditamos que em breve o tema terá um desfecho positivo. É um assunto importante e que interessa a todas as partes. Esperamos que em breve possamos comemorar a regulamentação das apostas esportivas no Brasil", diz.
<b>Promotoria apura manipulação de resultados</b>
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) investiga um esquema de manipulação de resultados de jogos da Série B, em 2022, com a finalidade gerar ganhos aos apostadores. Jogadores como Romário, ex-Vila Nova, e Matheusinho, ex-Sampaio Corrêa, são investigados na operação chamada "Penalidade Máxima".
Segundo o MP-GO, o esquema de apostas consistia na marcação de pênaltis no primeiro tempo das partidas. Porém, não houve a marcação de pênalti em um dos jogos, impedindo o êxito da aposta. Cada jogador envolvido receberia R$ 150 mil, enquanto o prejuízo estimado dos apostadores é de R$ 2 milhões.
Leandro Pamplona, advogado e membro da Comissão Especial de Direito dos Jogos Esportivos, Lotéricos e Entretenimento da OAB/RJ, diz que a regulamentação pode ajudar a criar penalidades adequadas para a manipulação de resultados, mas não deve acabar de vez com a prática, que é antiga no esporte.
"O MP está de mãos atadas. O MP de Goiás deflagrou operação recente e precisou ter jogo de cintura para enquadrar manipulação em outros crimes, como quadrilha ou estelionato. O jogo legal sempre existiu. A melhor saída é fazer a regulamentação", diz.
<b>Gigantes do setor</b>
<b>As cinco maiores em audiência no Brasil</b>
<b>Bet365</b>
A Bet365 é uma casa de apostas fundada pela britânica Denise Coates, no ano 2000, ao custo de £ 15 milhões (por volta de R$ 95 milhões). Hoje, ainda como principal acionista da empresa, acumula fortuna de US$ 5,4 bilhões (R$ 78 bilhões), segundo a Forbes
<b>Betano</b>
Operada pelo grupo Kaizen Gaming, a Betano é uma empresa com sede na Grécia que atua há mais de dez anos no mercado de apostas esportivas. A empresa está em pelo menos 12 países, entre eles Portugal, Alemanha, Romênia, Grécia, Chipre, Chile e Bulgária
<b>BetNacional</b>
A BetNacional é parte do Grupo NSX Sports, fundado em Recife (PE) por João Studart. Durante a Copa do Mundo, a empresa contratou o atacante Vinícius Júnior como embaixador da marca.
<b>BetFair</b>
A Betfair é uma empresa de apostas do Reino Unido. Além de apostas esportivas, trabalha com cassino, pôquer e bingo online. Em 2006, o fundo japonês Softbank comprou 23% do negócio. Após a permissão legal para operar, o grupo chegou ao Brasil em 2019.
<b>BetPix365</b>
A Bet Pix 365 é uma das maiores empresas de apostas da Europa. Fundada no Reino Unido em 1974, a companhia passou a permitir apostas via internet em 2000. Em 2005, fechou suas casas de apostas fixas para ficar apenas na web.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>