O secretário-geral da ONU, António Guterres, se reuniu nesta quinta-feira, 18, com os presidentes de Ucrânia, Volodmir Zelenski, e Turquia, Recep Tayyip Erdogan, para tentar evitar um acidente nuclear na usina de Zaporizhzia, que está no meio do fogo cruzado entre russos e ucranianos.
Na reunião, Guterres alertou que qualquer ataque à usina seria "suicídio" e voltou a falar em desmilitarização da região, proposta rechaçada pela Rússia. A Ucrânia, por outro lado, descarta um acordo de paz enquanto houver tropas em seu território.
Zelenski pediu à ONU que "garanta a segurança" de Zaporizhzia e a desmilitarização da área. O chanceler da Ucrânia, Dmitro Kuleba, disse que o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aceitou o convite para liderar uma inspeção na usina, mas Moscou ainda não deu o sinal verde.
Guterres pediu que a usina não seja usada em operações militares. Rússia e Ucrânia se acusam mutuamente de ter bombardeado Zaporizhzia. Desde março, as forças russas ocupam as instalações, onde foram armazenadas armas pesadas, segundo os ucranianos.
Algumas autoridades ucranianas dizem que provocar o pânico pode ser precisamente o objetivo de Moscou, na esperança de que a pressão internacional force Kiev a capitular e fazer concessões territoriais.
A inteligência militar da Ucrânia teme que a Rússia esteja preparando uma simulação de ataque para culpar Kiev, semelhante à estratégia que usou para justificar a invasão, em fevereiro. A mídia estatal russa também acusa a Ucrânia de planejar uma "provocação" na usina para coincidir com a viagem de Guterres.
O fogo cruzado na usina aumenta os temores de um colapso nuclear nos moldes do ocorrido em Chernobyl, em 1986. Alguns países esperam que Guterres seja capaz de trabalhar com Kiev e Moscou para garantir inspeções da AIEA. No início do mês, o diretor da agência nuclear da ONU alertou que Zaporizhzia estava "completamente fora de controle".
Na quarta-feira, 17, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, alertou que a tomada da usina pela Rússia "aumentou o risco de um acidente nuclear" e acusou Moscou de ser "imprudente" ao usar a área como plataforma para lançar ataques de artilharia contra forças ucranianas.
<b>Acordo de grãos</b>
O encontro de ontem também serviu para revisar o progresso das exportações de grãos pelos portos ucranianos, que foram retomadas recentemente após um bloqueio da Rússia. Na sexta-feira, Guterres viajará para Odessa, o maior porto da Ucrânia, para observar os resultados do acordo que restabeleceu o fluxo das exportações.
A guerra agravou a crise alimentar global, porque Ucrânia e Rússia estão entre os principais produtores de grãos do mundo. Antes do conflito, os ucranianos colocavam 50 milhões de toneladas de grãos por ano no mercado mundial. ONU e Turquia intermediaram o acordo para retomar o fluxo de grãos, mas mesmo assim apenas uma pequena parcela das exportações conseguiu sair.
Enquanto isso, no campo de batalha, pelo menos 17 pessoas foram mortas e 42 ficaram feridas em ataques pesados com mísseis russos na região de Kharkiv, na Ucrânia, na noite de quarta-feira e na manhã de ontem, disseram autoridades ucranianas. Os militares russos alegaram que atacaram uma base de mercenários estrangeiros, matando 90.
Aumentando as tensões internacionais, a Rússia enviou aviões de guerra carregando mísseis hipersônicos de última geração para a região de Kaliningrado, um enclave cercado por dois países da Otan, Lituânia e Polônia. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
<b>Guterres nomeia general brasileiro para apurar crimes de guerra</b>
O secretário-geral da ONU, António Guterres, anunciou ontem em Lviv que escolheu o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, para liderar uma missão de apuração de possíveis crimes de guerra na Ucrânia. Segundo Guterres, Santos Cruz é um "oficial respeitado com mais de 40 anos de experiência nacional e internacional em segurança pública e militar, até mesmo como comandante de operações de manutenção da paz da ONU – a Minustah, no Haiti, e a Monusco, na República Democrática do Congo. Na Ucrânia, Santos Cruz será encarregado de investigar a explosão em um centro de detenção na região separatista de Donetsk que deixou dezenas de mortos no final de julho.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>