A megaoperação realizada nesta quarta-feira, 11, pela Polícia Civil de São Paulo na região central resultou na prisão de cinco pessoas suspeitas de participar do tráfico de drogas na Praça Princesa Isabel, no centro da cidade, local que passou a ser conhecido como a "nova Cracolândia". Outras 15 foram detidas, mas liberadas por falta de provas. As investigações prosseguem.
"Hoje (ontem, quarta) nós tivemos a prisão inclusive de um traficante relevante ali, que tem um apelido diferente, que é Filé com Fritas . Ele se encontra preso por conta da prática reiterada do tráfico de drogas", explicou o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Seccional Centro. O apelido é o codinome de Lucas Felipe Macedo Marques, de 22 anos, um dos dois presos a partir de mandados. Os outros três foram presos em flagrante.
"Ele (Filé com Fritas), de forma contumaz, estava na Praça Princesa Isabel, substituindo traficantes que foram presos", disse Monteiro, que destaca que os lucros dos traficantes podem chegar a até R$ 200 milhões por ano. Os presos foram levados ao 77º DP (Santa Cecília), que conduz o trabalho de inteligência e as investigações da Operação Caronte. Segundo Monteiro, já foram feitas mais de 100 prisões no fluxo de drogas desde que ela começou, há cerca de 10 meses.
Nesta quarta, foi realizada a quinta fase da Caronte, que se deu de forma integrada à Operação Sufoco, anunciada pelo governo do Estado. A ação contou com mais de 600 policiais civis e militares, além de membros da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
O objetivo da ação era cumprir 36 mandados de prisão na região da Praça Princesa Isabel – apenas dois foram cumpridos, mas as investigações continuam – e mais 10 mandados de busca e apreensão. "Inclusive um mandado de busca coletiva para as barracas, expedido pela Justiça justamente diante das evidências que a Polícia Civil apresentou de que aquelas barracas existiam ali e permaneciam naquele local apenas para dissimular o tráfico de drogas que havia no interior delas", disse Monteiro.
O delegado acrescentou ainda que foi feita a apreensão de "uma quantidade expressiva de drogas" – como tijolos de crack e de maconha – e reforçou que houve uma "inflação do crack" no local. "Nós começamos (as investigações) com a pedra custando 20 reais, e tivemos notícia recentemente da pedra custando R$ 50 na Praça Princesa Isabel, justamente pela pressão policial", explicou.
A polícia estima, com isso, que somente um dos tabletes apreendidos nesta quarta custaria por volta de R$ 800 mil. Conforme a polícia, foram apreendidas ainda dois simulacros de arma de fogo, 19 balanças de precisão, facas, entre outros objetos. Ao menos uma barraca suspeita de receptação foi desmantelada. Ela seria usada, segundo a polícia, para que traficantes recebessem objetos roubados, como celulares, e fornecessem drogas em troca.
"Hoje (ontem) nós também tivemos uma apreensão de uma grande quantidade de documentos, RGs, CPFs, título de eleitor", destacou Monteiro. "Esses documentos são vendidos por traficantes. Podem ser usados para a abertura de contas correntes, essas contas que são usadas para o encaminhamento inclusive de valores através de transferências por Pix, nesses golpes que são praticados hoje em dia depois da subtração dos celulares."
Levantamento feito pelo <b>Estadão</b> aponta que os roubos estão em alta em bairros nobres e na região central da cidade. Em alguns casos, os prejuízos podem ser multiplicados justamente por transferências via Pix, ferramenta de pagamento instantâneo do Banco Central.
Os diferenciais da operação, segundo o delegado, são o "trabalho meticuloso" realizado pelos investigadores e o emprego da tecnologia para identificar traficantes. "Uma imagem vale mais que milhares de palavras. Com a imagem de várias personagens, como a Gatinha da Cracolândia, a Abelha Rainha, agora o Filé com Fritas, eles têm dificuldades de apresentar defesa e acabam condenados, encarcerados e permanecem assim."
Monteiro reforçou que a ação da Operação Caronte, que também influiu na dispersão da Cracolândia da Praça Júlio Prestes, contou com apoio da Prefeitura de São Paulo e foi feita de forma integrada. "Nós estamos trabalhando em conjunto – o governo do Estado, Prefeitura de São Paulo, as forças policiais, as secretarias de assistência social, secretarias da Saúde do Estado e do município – justamente para enfrentar esse grande e complexo problema que temos na capital, que foi agravado pela pandemia da covid", destacou.
Os agentes chegaram à Praça Princesa Isabel por volta de 4h, onde a ação se iniciou e se estendeu ao longo do dia. "Fizemos o que já vínhamos fazendo na Praça Júlio Prestes, que é a contenção dos usuários para que os traficantes não influenciassem e insuflasse esse grupo de traficantes contra a polícia, para que não houvesse confronto", explicou. "Também nós fizemos no entorno, num círculo maior, o fechamento, evitando justamente efeitos colaterais no entorno da Praça Princesa Isabel."
Conforme o <i>Estadão</i> apurou, alguns policiais militares teriam chegado à Praça Princesa Isabel antes do início da ação, inclusive removendo o ônibus que ficava no local. A ação levantou a suspeita que alguns dos traficantes teriam saído do local com antecedência por suspeitar que haveria uma ação policial. O balanço final da operação ainda não foi divulgado.
<b>Como funciona o tráfico na Cracolândia</b>
Conforme o delegado Roberto Monteiro, o tráfico de drogas na Cracolândia funciona com uma estrutura hierárquica, que conta com os seguintes membros:
– Traficante, que conduz o tráfico na área;
– Auxiliar do traficante, que dá apoio para operacionalizar as transações;
– Travessia, que leva as drogas dos hotéis do entorno para as mesas colocadas embaixo das tendas;
– Disciplina, que é responsável por ajudar o traficante a manter a ordem no espaço no fluxo da Cracolândia;
– Armadores, que eram os que montavam e desmontavam as cerca de 7 a 10 barracas do tráfico de drogas na Praça, de acordo com as atividades de limpeza da Prefeitura de São Paulo.