A moda de Milão se divide em dois mundos: um aristocrático e conservador e o outro colorido, vibrante e debochado. Em comum, eles têm o fato de buscar apoio em elementos estéticos do passado. Domenico Dolce e Stefano Gabbana que o digam. Patronos do Teatro alla Scala, eles se debruçaram nos arquivos das óperas para criar uma coleção de moda masculina inspirada no universo do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901). Partituras, libretos e figurinos foram parar na passarela na forma de fraques remodelados, estampas e silhuetas baseadas no jeito de vestir do homem do fim do século 19. Inclusive, no estilo pessoal do compositor, que era um senhor elegante, bem-humorado e um tanto excêntrico.
Enquanto a semana de moda feminina italiana se desenrola vaporosa, os estilistas recebem agora em Milão seus clientes homens mais famosos para sessões de provas e encomendas. Na coleção de alta sartoria, os costumes são feitos sob medida.
“Tentamos manter uma relação próxima com os clientes da alta moda, como faziam os costureiros de antigamente”, afirmou Gabbana, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”. “Não podemos dizer que somos amigos de todos, mas nos recusamos a tratá-los com a impessoalidade que se vê nas grifes hoje em dia.”
Os estilistas, por sinal, foram iniciados às obras líricas de Verdi pelas mãos do tenor Luciano Pavarotti, que era um cliente e acabou virando amigo. Em jantares animados, nos quais o cozinheiro era Pavarotti, Dolce e Gabbana se aprofundavam no universo dramático das óperas italianas. “Era maravilhoso. Pavarotti preparava massas enquanto a gente apreciava os clássicos”, lembra Dolce.
Para apresentar essa coleção, a passarela foi armada no palco do Teatro alla Scala, onde grandes telões cenográficos exibiam os cartazes e partituras de peças como Nabucco (1842) e Otello (1887) digitalizadas. As mesmas ilustrações e composições tipográficas dos cartazes foram reproduzidas em suéteres, camisas e até paletós.
Alguns looks seguiam à risca os preceitos da sartoria, com cortes formais e modelagem ajustada. Capas de veludo, cartolas e gravatas grandes e deformes davam graça aos ternos e smokings. Mas a surpresa foram mesmo os looks casuais. “Quisemos fazer uma sartoria contemporânea incluindo peças urbanas”, informou Gabbana.
Ao som das árias do compositor, o desfile começou com um fraque lembrando os trajes usados por Verdi. Veio então uma sequência de ternos e smokings, alguns deles em um vermelho vibrante. Na Itália, há 3.046 ruas, becos e praças com o nome do compositor (Verdi só perde para Dante). Mas seu lado mais lúdico é pouco citado. “Tentamos mostrar um lado menos conhecido de Verdi: ele era um grande músico, mas também um homem que gostava de se divertir”, acrescentou Dolce.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.