Dentre os vários acontecimentos marcados para 2020 nenhum é mais importante do que as eleições municipais. Mais uma vez empreende-se candidaturas para a Casa Branca municipal e para a Câmara de Vereadores. E, mais uma vez, o espetáculo e o império da mediocridade se exibem diante os guarulhenses.
Como num ciclo defeituoso, todas as pretensões a um cargo político se limitam à discussão da eleição. Que coligação apoiar, que forças se encontrar, quais estratégias de marketing atuar e nada, absolutamente NADA sobre propostas à cidade.
Não se viu até agora, um texto, uma redação de cinco linhas, um simples parágrafo sobre o que fazer para desenvolver a cidade de Guarulhos. Não há um mero artigo de jornal ou em qualquer outra mídia uma publicação demonstrando o que pensa um pré-candidato e quais são suas propostas para o futuro do município. O máximo de informação que temos disponível, afora os posts promocionais, são as entrevistas que tais concederam à mídia. Nestes momentos, tenho pena dos profissionais de jornalismo local. Cada um teve que se desdobrar para fazer perguntas e tentar extrair ideias sobre o que pensa cada um. Nas respostas só conseguem falar de trajetória pessoal e criticar ao que está errado. Mas não conseguem sustentar uma proposta por mais de dois minutos.
É assim, neste debate raso, que se apresentam os candidatos. Cenário que infelizmente permanecerá até o dia da eleição.
Como professor orientador de trabalho de conclusão de curso (TCC) exijo dos meus alunos conteúdo suficiente para preencher 50 folhas ou algo que, no mínimo, faça sentido. Se for aplicada hoje uma redação com qualquer um destes pré-candidatos, dissertando sobre o futuro da cidade, eles não completariam duas folhas. Os problemas de Guarulhos – como a dívida, o desgoverno, o aparelhamento – ficam pequenos frente à falta de visão, perspectiva e estratégia para a cidade. Como não possuem um diagnóstico preciso, tudo o que fazem é arrotar frases de efeito e ações pontuais. Se perguntar o que é Reskiling, algo que as grandes cidades do mundo hoje planejam, se ouvirão grilos.
Guarulhos se acostumou a vangloriar a mediocridade e a não ter uma única área da administração pública como exemplo de excelência. Casos assim, quando existem, são propositalmente silenciados para não tirar o brilho do chefe signatário. Onde está a ousadia de elevar algo à excelência? Por que não podemos ter um parque público de qualidade nacional? Por que não podemos ter um posto de saúde referência ou uma tecnologia em serviço que poderia ser exemplo para o país inteiro? Por que não ousar em transformações urbanísticas de vanguarda? Por que não trabalhar com afinco para acabar definitivamente com uma favela? Imagine se a cidade tivesse um exemplo vitorioso e definitivo do fim de uma favela, concentrando todas as forças para resolvê-la. O quanto poderia inspirar a mudança da cidade! Ao menos seria um case a ser conquistado.
O que me entristece é a conformação do status quo. Se conseguir deixar funcionando, mesmo que precariamente, já é considerado bom e suficiente. Quando é que nos conformamos com tamanha banalidade?
Outro capítulo à parte é a Câmara Municipal de Guarulhos. Com orçamento bilionário, ficou em 2017 e 2018 sem funcionar alguns meses, e o resultado é: não fez a menor diferença para a população, prova concreta da inutilidade dos representantes atuais. Quem terá a coragem de propor o corte de seu orçamento para menos de um quinto do atual? A Câmara é o exemplo mais virtuoso da ineficiência do gasto público, mas infelizmente é “renovada” sob um problema cultural: quando é que a população vai parar de votar em assistencialistas, nos amiguinhos que colocam faixas no bairro? Quando escolherão alguém capaz de servir de fiscal verdadeiro da administração?
As eleições de 2020 se aproximam e o julgamento deste mandato será feito: tanto para o Poder Executivo quanto para o Legislativo. É claro que temos que considerar o espectro de uma herança inescrupulosa do PT, a maior dívida e maior irresponsabilidade da história da cidade, com toques de escândalos na Lava Jato e aparelhamento completo da máquina pública; contudo, sem uma visão e projeto de cidade, em todas as áreas, condenaremos mais uma vez nosso futuro ao debate da frugalidade.
Danilo Ramalho é professor na UnG e presidente do Conselho Municipal de Turismo de Guarulhos.