Colunas Política

OPINIÃO: Polarização nacional não deve ser parâmetro para a eleição municipal em Guarulhos

A polarização política é um fenômeno que tem influenciado diretamente o cenário das eleições municipais em todo o país, e Guarulhos não é exceção. No entanto, é fundamental compreender que as disputas ideológicas e partidárias em nível nacional não devem se sobrepor às necessidades locais e às escolhas dos eleitores no âmbito municipal.

 

 

Um dos efeitos mais notáveis da polarização nacional é a transferência de temas e debates que deveriam ser exclusivamente locais para uma esfera mais ampla. Questões como políticas públicas de saúde, educação e infraestrutura, que deveriam, em tese, ser discutidas com base nas necessidades específicas de cada município, muitas vezes são moldadas por essa disputa. O que é um erro.

No entanto, Guarulhos se destaca como um exemplo de como a polarização que está em vigor atualmente no Brasil não deve ser aplicada a nível municipal. A cidade enfrenta uma situação política peculiar, onde as divisões ideológicas em nível nacional não traduzem —nem um pouco— o cenário local.

Um exemplo claro dessa dinâmica pode ser observado no Partido dos Trabalhadores (PT) em Guarulhos. O partido se encontra dividido após a saída de Elói Pietá, uma figura histórica e influente no cenário político local, que inclusive foi prefeito da cidade entre os anos de 2001 e 2008. Pietá, ao discordar da indicação de Alencar Santana como candidato, optou por se desfiliar do partido, gerando um racha na esquerda guarulhense e incomodando a alta cúpula da sigla.

Em entrevista exclusiva concedida ao GWeb em outubro do ano passado, o ex-prefeito disse que não considerava “legitima nem válida” a escolha do deputado federal para a disputa pelo PT, visto que a decisão foi tomada, segundo ele, por apenas 35 pessoas e não pela ampla maioria dos filiados do partido. Pietá chegou a recorrer à justiça, mas não teve sucesso.

Neste sábado (2), durante o lançamento da pré-candidatura de Alencar, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, criticou a decisão de Elói Pietá de deixar a sigla. “O Elói é um grande quadro, mas não se fez sozinho. Se fez com o PT, com a nossa militância. Ele também deveria respeitar o PT”, disse.

Por outro lado, no campo bolsonarista, a situação não é menos complexa. Jair Bolsonaro não apoia o nome de Lucas Sanches, do Partido Liberal (PL), para a disputa em Guarulhos. O ex-presidente e muitos de seus apoiadores na região já manifestaram seu descontentamento com o vereador, principalmente devido à sua postura de neutralidade nas eleições de 2022 e sua antiga ligação com o Movimento Brasil Livre (MBL), um dos principais detratores do governo Bolsonaro.

O ex-presidente chegou a dizer que não apoiaria Sanches “de jeito nenhum”, segundo o jornal Metrópoles. Do mesmo modo, seu ex-secretário de comunicação, Fabio Wajngarten, também foi a público para manifestar seu descontentamento com o nome do vereador. “Tem um gênio de Guarulhos que xingava e desprezava o presidente e agora quer o apoio dele para a eleição”, escreveu. “Ninguém faz a mínima lição de casa? Ninguém pesquisa nada? Não rola. Vou manobrar contra”.

Apesar das tensões e divisões políticas em nível nacional, é inegável que a verdadeira representação da direita guarulhense fica a cargo do prefeito Guti, mesmo sem poder concorrer à reeleição. O atual chefe do executivo guarulhense foi elogiado por Bolsonaro em diversas ocasiões e manteve um diálogo constante com ele e seus ministros ao longo de seu mandato. Guti também esteve presente na manifestação convocada pelo ex-presidente no último dia 25, na avenida Paulista.

No entanto, a ausência de Guti, o preferido dos eleitores segundo o Paraná Pesquisas, deixa um vácuo político que está sendo disputado por diferentes forças e candidatos. Este cenário, somado à polarização nacional, é essencial para os eleitores avaliarem além das siglas partidárias em 2024.

É importante citar que a complexidade política de Guarulhos requer uma análise cuidadosa do contexto local, das propostas dos candidatos e de como estas se alinham com as necessidades específicas da cidade e de cada eleitor. A polarização nacional não reflete adequadamente a diversidade e as particularidades do cenário político guarulhense, sendo fundamental que os eleitores considerem os aspectos da cidade, e não apenas das legendas, ao exercerem seu direito de voto nas próximas eleições municipais.

Posso ajudar?