Estadão

Oposição no Senado quer convocar Mauro Vieira por omissão em crise após eleição na Venezuela

Os senadores de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vão propor a convocação do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, após o "silêncio" do Brasil na crise por suspeitas de fraude no pleito presidencial da Venezuela. Segundo o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro-chefe da Casa Civil durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o pedido será protocolado com urgência.

A convocação, segundo o senador, ocorrerá "diante da omissão, do silêncio, da conivência e da falta de reação" do governo brasileiro. "Para tentar explicar o inexplicável."

O comparecimento de autoridades na Câmara ou no Senado pode ocorrer por meio de dois tipos de requerimentos: por convite, com o qual a presença é facultativa, ou por convocação, cujo cumprimento é obrigatório.

A reação do Brasil após a eleição para presidente na Venezuela foi na contramão de países vizinhos, mesmo os governados por autoridades de esquerda, como o Chile, de Gabriel Boric, e a Colômbia, de Gustavo Petro. A opinião predominante entre governos sul-americanos e mundo afora é o de que as queixas da oposição venezuelana, que afirma não ter obtido acesso a mais de 70% das atas eleitorais do país, são procedentes.

Os governos da Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai, juntamente com Equador e Paraguai, emitiram um comunicado conjunto pela recontagem de votos e respeito à soberania popular. A reação brasileira, contudo, foi mais contida. O assessor de Lula para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, cobrou acesso das atas da eleição aos observadores internacionais, mas ainda não rechaçou de forma contundente as suspeitas de fraude.

A Venezuela é uma ditadura comandada por Nicolás Maduro, herdeiro político do chavismo, a doutrina política inaugurada por Hugo Chávez. Maduro está tentando um terceiro mandato presidencial, mas a disputa pela sucessão ao governo foi marcada por perseguição a opositores e falta de transparência a observadores internacionais.

Segundo o resultado divulgado pelo órgão eleitoral da Venezuela, aparelhado por Maduro, o chavista venceu o pleito por 51% a 44% de Edmundo González, o principal candidato de oposição ao regime. Enquanto o Itamaraty não se posiciona sobre o tema de forma contundente, setores do PT, partido do presidente brasileiro, se colocam de forma favorável a Maduro. A executiva nacional petista chamou o presidente venezuelano de "reeleito", sem contestar a lisura do processo eleitoral.

Como mostrou a <i>Coluna do Estadão</i>, Lula e Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, conversarão para articular um posicionamento conjunto sobre a eleição venezuelana. A conversa deverá ocorrer às 15h30 desta terça-feira, 30.

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