Estadão

Ordem para PRF atuar contra transporte de eleitores foi acertada no Alvorada

Uma reunião no Palácio da Alvorada com coordenadores da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), no último dia 19, selou a estratégia adotada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) nas eleições deste domingo. Sob o argumento de que seria preciso combater o transporte irregular de eleitores, principalmente no Nordeste, onde o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, tem mais votos, o comando da campanha decidiu naquela noite que a PRF deveria reforçar sua operação nas estradas no dia do segundo turno.

A reunião contou com a participação de Bolsonaro e ocorreu no mesmo dia em que o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, autorizando prefeituras e empresas concessionárias de todo o País a oferecer transporte público gratuito neste segundo turno. No início da noite daquela quarta-feira, 19, Bolsonaro disse a jornalistas, no Alvorada, que sua campanha não recorreria do passe livre.

"Olha, nós poderíamos recorrer, mas não vamos recorrer. Vamos deixar todos que possam votar, que votem e que facilite a vida daquelas pessoas que não têm recursos para pegar o transporte para a votação", afirmou o presidente.

As instruções sobre a atuação da Polícia Rodoviária Federal, do Exército e da Polícia Federal chegaram ao Q.G. da campanha de Bolsonaro na quinta-feira pela manhã. O comitê de Lula foi informado dias depois que apoiadores de Bolsonaro agiriam para aumentar a abstenção de eleitores do PT.

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) entrou na sexta-feira, 28, com uma petição no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), solicitando que fosse interrompido o uso político da Polícia Federal e da PRF para "interferir no processo eleitoral" deste domingo.

"O que ocorreu foi um absurdo", afirmou Teixeira. "É o desespero bolsonarista materializado nessa operação da PRF. Mas a democracia vai vencer. Devemos vencer com uma apuração apertada, como foi polarizada toda a eleição", disse Edinho Silva, coordenador de Comunicação da campanha de Lula.

<b>Atraso</b>

O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, determinou no sábado que o diretor da PRF explicasse a razão das operações. No início da tarde deste domingo, porém, Moraes disse que as operações não impediram os eleitores de chegar aos locais de votação. "O prejuízo, eventualmente, foi o atraso durante a inspeção. Nenhum ônibus voltou à origem. Todos foram para a seção eleitoral, e votaram", afirmou o presidente do TSE. Denúncias feitas por eleitores em todo o País apontaram diversos bloqueios neste domingo, principalmente na região Nordeste, em 560 operações da PRF.

Na quarta-feira, 26 o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques – que declarou apoio a Bolsonaro nas redes sociais – esteve no Palácio do Planalto. O nome dele aparece registrado na agenda oficial de João Henrique de Freitas, chefe da assessoria especial do presidente da República. O <b>Estadão</b> apurou que o encontro durou uma hora.

Na madrugada deste domingo, Vasques assinou despacho dizendo que iria cumprir a ordem de Moraes. Fez, no entanto, uma ressalva, permitindo que os policiais continuassem agindo nas rodovias federais. "Reafirmo o compromisso da PRF com o fortalecimento da segurança pública nacional, quer seja na proteção das vidas, na preservação dos patrimônios públicos e privados e na garantia da mobilidade nas rodovias e estradas federais e nas demais áreas de interesse da União, razão pela qual a Operação Eleições 2022, nas ações não conflitantes com a decisão proferida pelo TSE, deve seguir o seu curso natural até o dia 1º de novembro de 2022?, escreveu o diretor-geral da PRF. A expressão "Operação Eleições 2022? foi grafada em letras maiúsculas.

Antes disso, na sexta-feira, 28, Vasques também teve uma reunião com o ministro da Justiça, Anderson Torres. O encontro contou com a participação do diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes.

Torres disse na ocasião que o recado para o eleitor era de "tranquilidade para exercer livremente o seu direito de voto". O titular da Justiça também afirmou que as polícias estavam "prontas para reprimir esses delitos". Ele se referia, porém, aos mais de R$ 10 milhões apreendidos em dinheiro, relacionadas à suspeita de compra de votos desde o início da campanha eleitoral.

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