Os 100 anos do poeta maior

O poeta João Cabral de Melo Neto pertencia a uma família ilustre: seu irmão é o historiador Evaldo Cabral de Melo, além de ter sido primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre. E, como os demais, João Cabral construiu uma carreira singular, tornando-se um dos principais poetas da língua portuguesa do século 20, da mesma grandeza de Pessoa e Drummond.

O escritor pernambucano que não acreditava em inspiração – para ele, a obra-prima era fruto do extenuante trabalho com a palavra – será festejado ao longo deste ano e o ponto de partida é esta quinta-feira, dia 9, quando é lembrado o centenário de seu nascimento (ele morreu em 1999, aos 79 anos). Por conta disso, uma série de novas edições de sua obra completa vai preencher a temporada editorial para comemorar a efeméride.

Cabral era um estilista mesmo não admitindo – cada verso era cuidadosamente pensado, a fim de dar forma a uma estrutura consistente do poema, o que o tornava conhecido como o poeta da matéria, por seus versos secos, exatos, sem ilusões e de emoções omitidas. Estudioso da obra cabralina desde 1977, o também poeta Antonio Carlos Secchin é figura central no trabalho de reedição – no primeiro semestre, a Alfaguara vai lançar um volume com poesia completa organizada por ele, que acrescentou trabalhos inéditos.

Também poemas inéditos são acrescentados – o arquivo de Cabral deixado aos cuidados da Casa de Rui Barbosa, no Rio, revela-se um verdadeiro tesouro, pois mais de 40 poesias inéditas já foram identificadas e ratificadas. Um volume de prosa também está nos planos da editora, para o segundo semestre, incluindo entrevistas e discursos que se encontravam dispersos ou sem publicação. Aqui, a organização será de Sergio Martagão Gesteira.

Estão previstas ainda uma fotobiografia, organizada por Eucanaã Ferraz, e uma nova biografia, assinada por Ivan Marques. Obras que reforçam o perfil de um poeta que construiu uma obra marcada tanto por uma tendência surrealista como por assuntos populares. Comum, na verdade, era o rigor estético, que gerou poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurando uma nova forma de fazer poesia no Brasil.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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