Na plateia, Lulu Santos dividia-se entre a surpresa e a alegria. “Não sabia que minhas letras tinham essa profundidade”, comentou o músico e compositor, enquanto assistia ao musical Meu Destino é Ser Star, cuja trama utiliza 44 de suas canções. Depois de uma temporada no Rio, onde Lulu compareceu, o espetáculo chega a São Paulo, onde estreia no Teatro Shopping Frei Caneca, na sexta, 15.
Trata-se de uma história bem tramada na qual as canções do compositor ajudam a contar o enredo. “As músicas de Lulu têm um ritmo empolgante, pop mesmo, mas, se observamos com atenção algumas letras, vamos perceber que são filosóficas por tratarem de alguns aspectos da vida”, conta Renato Rocha, diretor e também autor da concepção do espetáculo, ao lado de Diego De Angeli e Leandro Muniz. “Lulu é como Madonna e Beyoncé, pois sua música dialoga com todas as tendências, além de continuar atual.”
O ponto de partida, que justifica o título, é a busca de quase todo artista em alcançar algum tipo de notoriedade. Dessa forma, o musical acompanha um grupo de atores que vai encenar um espetáculo, Toda Forma de Amor, desde o processo de seleção até a fase de ensaios. “É o retrato de várias situações que passamos na nossa rotina”, observa Myra Ruiz, uma das grandes estrelas do musical brasileiro, especialmente depois do estrondoso sucesso em Wicked. “Na verdade, isso ajuda também a mostrar nossos receios e fraquezas, o que ajuda a desmontar a imagem de alguém confiante que muitas pessoas têm de nós.”
Ela vive uma atriz também chamada Myra, cujo namorado, Gabriel (Gabriel Falcão), é um astro do gênero. Na nova produção, ele vai reencontrar um amor antigo, Jéssica (Jéssica Ellen), também selecionada para o espetáculo, que conta ainda com Mateus (Mateus Ribeiro), um ator que lida com sua indefinição sexual diante do coreógrafo Victor (Victor Maia). O elenco conta ainda com Helga Nemetik, Carol Botelho, Marina Palha, Ana Elisa Schumacher e Leonardo Senna, todos vivendo personagens que levam seus nomes.
“No início, fiquei incomodada com essa escolha do Renato e dos outros autores”, comenta Jéssica. “Senti que minha história seria muito exposta; por causa disso, criei um outro nome para a personagem, além de usar um piercing quando estou em cena.” Renato Rocha justifica a opção por tornar, com isso, o público mais próximo da criação artística.
“Concordo com isso, pois, em um momento como o atual, em que o fazer artístico é visto por algumas pessoas como dispensável, essa exposição no palco mostra um pouco da nossa rotina, das nossas dificuldades”, raciocina Gabriel Falcão.
Também contribuem as canções de Lulu Santos, vistas por Mateus Ribeiro como ilusórias. “Lulu mascara a realidade: enquanto a melodia é dançante, empolgante, as letras convidam a meditar, a pensar na vida”, comenta.
No mesmo tom, trafega a coreografia criada Victor Maia, que vem colecionando grandes realizações. Aqui, o desafio era grande. “Os produtores me pediram algo virtuoso, que fizesse lembrar espetáculos que mostram os bastidores teatrais, como Fama e Chorus Line”, explica. “Assim, busquei a especificidade de cada ator para criar os gestos. Mateus, por exemplo, é hábil no street dance, Myra honra a tradição do jazz e eu comecei na capoeira até enveredar para a dança.”
Para coroar a concepção do espetáculo com uma pegada de show, a direção musical e a concepção dos arranjos ficaram sob a responsabilidade de Zé Ricardo, que comanda o palco Sunset do Rock in Rio – aqui, sua trilha é executada com ajuda de bases eletrônicas. “Todos os cuidados foram tomados. O visual dos figurinos e do cenário, por exemplo, remetem à Pop Art, com influência de Andy Warhol”, explica Rocha.
E, para ressaltar a proximidade com a realidade, o musical terá também em São Paulo um momento em que um novato, selecionado pela internet, se apresenta no palco, como se fosse uma audição. Esse momento é comandado, via telão, pelo ator Diego Montez. E o vencedor vai ganhar um papel no próximo musical da produtora Aventura.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.