Quando o brasileiro saiu às ruas para protestar contra o aumento da tarifa de ônibus e contra tantas outras insatisfações em junho de 2013, Natasha Felizi, pesquisadora do Portal Panfletos da Nova Era, e João Paulo Reyes, ativista formado em audiovisual, tiveram que assistir de casa porque esperavam o nascimento da filha. Mas isso não bastava. “Nervosos com essa situação, decidimos produzir um pequeno jornal com textos publicados na internet que estávamos lendo”, conta Reys. Eles então acionaram a artista Maria Borba, que pediria ajuda a uma amiga do mercado editorial para imprimir o material.
Chegaram à Rocco, e a editora, que já queria publicar um livro ali, no calor da hora, com textos de intelectuais de peso, convidou o trio para organizar essa obra. Brasil em Movimento – Reflexões a Partir dos Protestos de Junho é o resultado de meses de entrevistas e contato com nomes diversos – de Davi Kopenawa a Fausto Fawcett, de Gilberto Gil a Hans Ulrich Gumbrecht. Um debate nesta quinta-feira, 15, com Lucio Gregori, Raquel Rolnik e Paulo Mendes da Rocha – três dos mais de 30 autores do livro – marcará o lançamento em São Paulo. A ideia não é falar da obra em si, mas, como explica Maria Borba, continuar pensando o Brasil. “Este pensamento e movimento não terminam nunca, são constantes e precisam estar sempre em transformação. A luta continua”, diz.
Trata-se de um livro datado, como os próprios organizadores colocam na apresentação, e João Paulo Reyes justifica sua publicação agora, um ano e meio depois: “Junho foi um momento de importância histórica para o País e deveria ser documentado. É uma maneira de retratar o que as pessoas estavam pensando naquele momento, e transportar essas reflexões no tempo pelo livro, que é uma mídia que alcança o futuro”. Para Maria, o objetivo é apresentar um conjunto de pensamentos abertos, em desenvolvimento – em forma de texto, entrevista e trabalho artístico, e não produzir uma análise. “Uma abertura necessária no sentido de nos permitir acompanhar o movimento de um país”, comenta.
Uma cronologia dos protestos, iniciada com a manifestação em Porto Alegre, no dia 27 de março, contra o aumento da passagem de ônibus e encerrada em 26 de agosto, com a confirmação da condenação em primeira instância do morador de rua Rafael Braga Vieira, preso no Rio durante protesto, completa a obra que reproduz, ainda, obras de Cildo Meirelles, Tunga e Carmela Gross, entre outros.
Mas a história não acaba com o lançamento, acreditam. “O debate tem que continuar ecoando para que os presos políticos, feridos, vítimas da polícia e da repressão desproporcional não tenham suas causas esquecidas ou abafadas. O objetivo maior deste livro talvez seja contribuir para que junho continue ecoando, se possível cada vez mais, até que haja justiça”, diz Natasha Felizi. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.