De 1985 a 1991, havia uma banda muito louca na cidade. Os Mulheres Negras, dupla formada por André Abujamra e Mauricio Pereira, sacudiram a vanguarda musical paulistana. Eram donos de canções, aliás, um reflexo da cidade onde viviam, diferentes referências, vindas de partes distantes do globo, fluindo por uma mesma via, como as avenidas Paulista ou São João. São Paulo era o caos urbano, em crescimento constante. Os Mulheres Negras tinham uma esquisitice sonora que, 30 anos depois, se percebe o inevitável. O que Pereira e Abujamra fizeram, registrado em Fita Pirata Oficial (1987), Música e Ciência (1988) e Música Serve Pra Isso (1990), só estava à frente do seu tempo. Em 2015, “todo o resto” chegou ao ponto da dupla paulistana.
“Quando convidaram a gente, fui entender melhor do que se tratava o festival”, explica Pereira sobre o Festival Música Estanha, que inicia a terceira edição nesta terça-feira, 24, e se espalha pela cidade de São Paulo até domingo, 29. “E percebi que temos tudo a ver. No fundo, a gente está ali na frente do combate sonoro. Somos da turma fora do esquadro, gente que alarga a capacidade da canção e de um show.”
Os Mulheres Negras são uma das 12 atrações musicais dessa terceira edição do Música Estranha, que se dividem a partir de quarta, 25, pelo Sesc Vila Mariana, Estúdio Fita Crepe, Centro Cultural São Paulo, Praça da Artes, Nos Trilhos, na Ciclofaixa da Avenida Paulista e no Mirante 9 de Julho. Na terça, abrindo as atividades do festival, ocorre uma oficina chamada Musification: Redescubra os Sons Cotidianos Através da Tecnologia, com o norte-americano Akito van Troyer, pesquisador do MIT Media Lab.
A dupla de Pereira e Abujamra se apresenta no Nos Trilhos no sábado, 28, a partir das 19h30. Também se apresentam, naquela noite, Abraxas (dos Estados Unidos), Los Pirañas (Colômbia) e Classical Music Rave (Holanda). “A nossa proposta ainda é parecida com aquela que tínhamos quando começamos”, explica Pereira. “Acho que o mundo mudou. O mundo ficou mais parecido com Os Mulheres Negras de 1985. Com a internet, basta um clique e você tem acesso a tudo. Os Mulheres sempre foram isso, fazíamos um esforço para amarrar tanta coisa. Às vezes, era difícil”, ele diz, e conclui: “Acho que o tempo foi bom para a gente também. A gente era mais intenso do que necessário. Precisávamos de mais maturidade.”
No Rio de Janeiro
Na capital fluminense, o Música Estranha fará apenas uma sessão do filme mudo The Oyster Princess, do alemão Ernst Lubitsch, no dia Espaço Cultural BNDES, na quarta-feira, 2.
Na cidade, o Festival Novas Frequências também propõe uma música “fora da caixinha”. Realizado entre os dias 1.º e 8 de dezembro, o evento trará 42 artistas, de 12 países diferentes, para sete pontos do Rio: Audio Rebel, Cais da Imperatriz, Casa Rio, Laboratório Agnut, Maison de France, Oi Futuro Ipanema e Sesc Ginástico.