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Os perigos e as armadilhas do poeta vestido de roqueiro

Jim Morrison é uma daquelas personalidades cheias de armadilhas e atores que o tomarem pelos traços expostos nas camadas mais superficiais só terão parte de sua essência. Sua sensibilidade não era a de um roqueiro junkie, mas a de um poeta romântico. Sua preocupação maior não era com os caminhos harmônicos da canção, mas com o discurso verbal que ela traria. Foi pelos versos que criou para Moonlight Drive, e não pelos cabelos cacheados, que foi chamado pelo tecladista Ray Manzarek na escola UCLA para que formassem juntos uma banda de rock.

A perturbação de Morrison caiu sob medida no personagem que o rock and roll pedia em 1965. O mundo já tinha como signos os meninos bons, os Beatles, e os meninos maus, os Stones, mas ainda não havia nenhum ser tão misterioso, de comportamento tão imprevisível e inconsequente, que o colocaria à parte dos bons e dos maus. Pela primeira vez no início da era dos grandes ídolos havia, enfim, um homem real. Sem direção de um grande produtor, sem obedecer a regras e estratégias de um empresário experiente, subia ao palco um jovem que degustava o sabor recém-descoberto do espírito livre, até então proposto apenas por ídolos, ironicamente, escravizados pelo showbiz.

O preço seria alto. Sem viver nos padrões pop dos personagens do rock and roll, Morrison não tinha amarras. Um de seus ídolos maiores, o escritor francês Arthur Rimbaud, o emocionava quando dizia que “o poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos”. Abastecido pelo mestre, o próprio Morrison escreveria: “Tudo o que é desordem, revolta e caos me interessa; e particularmente as atividades que parecem não ter nenhum sentido. Talvez sejam o caminho para a liberdade. A rebelião externa é o único modo de realizar a libertação interior.” A prisão conservadora do rock foi pouco para abrigar o poeta Jim Morrison.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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