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Os primeiros passos de Obama e papa Francisco

Em 1960 em Buenos Aires, o jovem Jorge desiste de viver um grande amor e se afasta da militância peronista para se tornar um jesuíta austero que sonha viver no Japão. Em 1981, o jovem Barry deixa a casa da mãe no Havaí e parte quase sem dinheiro no bolso para Nova York, onde inicia os estudos universitários.

Naquele momento eles não tinham planos ousados para a carreira ou sonhavam que um dia seriam líderes mundiais. A história da juventude, formação intelectual e as crises existenciais que marcaram o início da trajetória do papa Francisco e do presidente Barack Obama foram incorporadas ao cardápio da Netflix na reta final de 2016.

São duas biografias instigantes e que merecem ser conferidas, mas o roteiro, direção, produção e elenco dos primeiros passos de Jorge superam com folga os de Obama.

O primeiro é uma mini série com quatro episódios que ganhou um nome piegas em português: “Pode me chamar de Francisco”. A narrativa começa e termina no conclave que consagrou em 2013 o argentino Jorge Bergoglio, de 76 anos, como o sucessor do papa Bento XVI.

O roteiro cruza o período da ditadura argentina e mostra a relação limítrofe entre o religioso e os dirigentes da mais violenta, assassina e dissimulada gestão militar do continente.

Ao contrário do cardeal brasileiro dom Paulo Evaristo Arns, Bergoglio, que é interpretado pelos ótimos Rodrigo De La Serna e Sergio Hernandez, não enfrentou abertamente o regime e chegou a rezar uma missa para o presidente Jorge Videla.
Mas havia uma justificativa, que era pedir a libertação de padres sequestrados.

Seria, portanto, uma injustiça acusá-lo de covarde ou carreirista. Antes de se tornar cardeal, o jesuíta atuou intensamente nos bastidores. Abrigou opositores, pressionou a cúpula da igreja e chegou a entregar a própria identidade para que um membro da guerrilha deixasse o país.

No episódio de abertura, Bergoglio desembarca em Roma sem nenhuma perspectiva de vencer os conclave.

Depois de se apresentar no alojamento, lava as próprias roupas, coloca as meias para secar em um varal e começa a refletir. “O que estou fazendo em Roma? Na minha idade as pessoas se aposentam”.

Jorge parece sentir-se culpado pela pouca profundidade de seus pensamentos. “Às vésperas do conclave eu deveria ter um pensamento mais profundo, mas em minha cabeça tenho uma canção, uma melodia sem pretensões. Uma guitarra”.

A juventude de Obama, por sua vez, é um longa metragem que foi batizado com apelido do presidente: “Barry”. O filme começa com Barack fumando no avião a caminho de Nova York enquanto lê uma carta do pai, um queniano com quem ele pouco conviveu. Ao chegar no destino, ele é obrigado a dormir na calçada depois de não encontrar o amigo que lhe daria abrigo. Obama transita entre a comunidade negra, onde joga basquete e vive, e a universidade de maioria branca, onde é vítima de racismo por parte da segurança do campus.

O futuro presidente é tímido, retraído e ressentido. “Todos aqui já têm um futuro definido. Sou o único negro das minhas quatro classes. A faculdade não é aprendizado, mas um treinamento para você querer o que não precisa e deixar de ser quem você é”.

O filme esbarra em dois problemas graves. O primeiro é a absoluta falta de carisma do ator principal, o apagado von Terrell. O segundo é o recorte histórico. “Barry” termina antes que ele dê os primeiros sinais de sua personalidade cativante, do poder da oratória e da capacidade de liderança. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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