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Os senhores do engenho e dos bastidores políticos

Quando era o todo-poderoso do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, costumava ir ao Rio conversar reservadamente com o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB). Era uma demonstração da força do político local: já naquela época, nada acontecia entre os peemedebistas fluminenses sem que Picciani soubesse, permitisse ou ordenasse. É assim até hoje – mas agora o patriarca atingido pela Operação Cadeia Velha enfrenta a maior crise de sua carreira, que ronda o clã que comanda na política fluminense.

Picciani teve infância modesta no subúrbio de Mariópolis, na zona norte, e estudou em escolas públicas. Começou na política em 1985, quando se filiou ao PSB e fez campanha para Marcelo Cerqueira para a prefeitura do Rio. Cerqueira perdeu, mas Picciani gostou da política. Foi eleito seis vezes deputado estadual, a partir de 1990, e se tornou um dos chefes da elite política do Rio. Passou pelo PDT e foi para o PMDB. Tem total controle da Alerj, o que lhe dá poderes de uma espécie de primeiro-ministro no Estado.

A carreira política de Picciani foi construída em parceria com Sérgio Cabral (PMDB). Foi primeiro secretário da Alerj, quando o hoje ex-governador era presidente da Casa. Os dois fizeram política juntos por mais de 20 anos, em uma relação de aliança, não de subordinação. Divergiram às vezes, como na eleição de 2014, quando o governo estadual apoiava Dilma Rousseff, mas Picciani defendeu Aécio Neves (PSDB) – e depois apoiou Dilma.

Após Cabral virar senador, em 2002, Picciani assumiu diretamente a presidência da Alerj. Só ficou longe do posto quando perdeu a eleição para o Senado, em 2010, e ficou sem mandato. De volta em 2014, retomou o comando da Casa.

Família. Quando Cabral surgiu no Palácio Guanabara, em 2007, e Eduardo Paes assumiu a prefeitura da capital, em 2009, Picciani e seu clã, produtores de gado nelore e com um patrimônio que em 2014 alcançou mais de R$ 27 milhões – crescimento de 900% nos últimos 20 anos -, chegaram com mais força ao Executivo local. Desde as eleições daquele ano, os Picciani – o pai e os filhos Leonardo, de 38 anos, ministro do Esporte, e Rafael, de 31, agora ex-secretário municipal de Transportes na capital fluminense – viveram a expectativa de virar governo por meio de três partidos. Apoiaram o candidato da oposição, Aécio Neves (PSDB); aderiram ao governo da então presidente Dilma Rousseff (PT); e alcançaram o primeiro escalão do governo Michel Temer (PMDB).

Recentemente, Jorge Picciani passou sete meses em sessões de quimioterapia por causa de um câncer na bexiga. Havia retomado a atividade parlamentar há um mês. Neste ano, ele já havia sido levado a depor pela Operação O Quinto do Ouro, que interditou o Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Em uma das reformas ministeriais promovidas por Dilma, Picciani emplacou as indicações da bancada peemedebista na Câmara, que ele mesmo levou à petista: o aliado no Rio Celso Pansera (Ciência) e o piauiense Marcelo Castro (Saúde). Leonardo e o pai fizeram do PMDB fluminense uma trincheira ao movimento de desembarque do governo que culminaria no impeachment. Agiam impulsionados pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o então prefeito carioca Eduardo Paes, que se organizava para sediar os Jogos Olímpicos – por isso recebia uma enxurrada de verbas federais.

Crítico da gestão de Pezão, Jorge Picciani trabalha pela candidatura de Paes ao governo do Estado. Ele tem dito que o melhor nome para suceder Temer é o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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