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Osesp quer estender contrato da Marin Alsop por mais 3 anos

A Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo pretende estender o contrato da maestrina Marin Alsop por um período de dois ou três anos, até o fim de 2019. A possibilidade já foi discutida pelo conselho de administração, mas esbarra na avaliação dos músicos: segundo pesquisa interna realizada entre o final de 2014 e o começo de 2015, cerca de 70% dos instrumentistas do grupo não aprovam a renovação do contrato da diretora musical, que vence no fim de 2016.

A pesquisa, da qual participaram 95% dos músicos do grupo, revela uma pequena melhora na avaliação da maestrina com relação à realizada no início de 2014, na qual 78% se colocavam contra a renovação. No levantamento do ano passado, no entanto, foi pedido aos músicos que avaliassem outras questões, como o desempenho de Alsop nos ensaios e nas apresentações; os músicos opinaram ainda sobre a quantidade de tempo que ela passa em São Paulo e outros temas, como sua atuação em gravações. À pergunta a respeito de se a orquestra teria melhorado desde 2012, ano de sua chegada ao comando do grupo, até o ano passado, 84% responderam que não.

Segundo Fábio Barbosa, presidente da Fundação Osesp, o contrato de Marin Alsop ainda não foi renovado, ao contrário do que afirmam alguns membros do conselho.
“O que existiu foi a decisão do conselho de administração de iniciar a negociação com ela. Houve um crescimento da orquestra nos últimos anos e isso se deve a dois fatores: a qualidade do trabalho dos músicos e a atuação da regente. Por isso, iniciamos essa negociação, mas com a preocupação de tê-la mais próxima da orquestra e do público. Mas não há nada fechado ainda, há aspectos a serem considerados, inclusive o interesse e a disponibilidade da própria Marin Alsop”, diz. Em conversa com o jornal O Estado de S.Paulo no início de março, Alsop manifestou o seu interesse em permanecer no cargo.

Sobre a pesquisa realizada pelos músicos, Barbosa afirmou não conhecer bem a metodologia utilizada. “Em um momento como esse, é preciso ouvir muita gente: músicos, assinantes e público em geral, mídia, membros dos conselhos, direções executiva e artística, patrocinadores, agentes. Todas as avaliações apontam para uma direção altamente satisfatória.” Para ele, mais importante do que a pesquisa, é “entender quais os pontos levantados pelos músicos e o que pode ser melhorado na relação”.

Uma das reivindicações dos músicos é a maior presença de Marin Alsop em São Paulo – e, segundo membros do conselho ouvidos pela reportagem, esse é um tema que já foi discutido em diversas reuniões também entre eles. “Chegamos a uma situação em que nosso pior desempenho se dá quando somos regidos pela nossa diretora musical e isso é um contrassenso”, diz uma musicista, que pede para não ser identificada. “Os ensaios acontecem de modo protocolar”, comenta outro integrante do grupo, para quem isso levou a uma situação na qual “a orquestra está aquém das suas possibilidades”.

A opinião era compartilhada pelo veterano maestro inglês Frank Shipway, morto no ano passado, com quem o grupo tocou e gravou diversas vezes. Em uma carta à direção da orquestra, enviada no início de 2014 e obtida com exclusividade pelo Estado, ele afirmava que Alsop “não se interessou em impor e influenciar a qualidade do som da orquestra”. “Se o casamento tivesse sido bem-sucedido, a essa altura já deveria ter nascido uma ligação entre ela e os músicos, que teriam plena confiança nas habilidades artísticas dela e nas suas visões a respeito do futuro da Osesp”, escreveu.

A própria Alsop, em entrevista concedida ao jornal O Estado de S.Paulo no final de 2014, reconheceu a necessidade de alguns “ajustes” e afirmou que este seria um ano “para ficar em casa e arrumar algumas questões internas, tendo em vista um novo patamar de execução musical”. Outra medida que desagradou à orquestra foi a separação dos músicos em dois grupos diferentes. Oficialmente, o objetivo é institucionalizar o revezamento entre os artistas, mas eles temem que a medida vise, na verdade, a estabelecer uma hierarquia interna entre os músicos.

A reportagem procurou Sávio Araújo, representante dos músicos no conselho de administração da Fundação Osesp, mas ele afirmou que não se pronunciaria sobre questões que ainda estão sendo discutidas internamente. Já Jefferson Collacico, diretor-presidente da Associação dos Profissionais da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, afirmou, em nota, que a “associação não participa de quaisquer contratações”. “Este assunto é de inteira responsabilidade do Conselho de Administração da Fundação Osesp. O que fazemos é oferecer subsídios à administração, com a confiança de que tudo seja conduzido da melhor forma possível”, acrescentou.

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