Variedades

Otto reinventa canções do passado e já prepara sexto disco da carreira

Otto pede um cigarro. “É permitido fumar aqui?”, questiona o cantor pernambucano, sentado na frente de um pequeno café no coração do bairro de Pinheiros. Duas centenas de metros adiante está o estúdio no qual ele a banda, a Jambro Band, ensaiam para a nova turnê, Otto Recupera. “Com o cigarro, talvez fosse melhor uma cerveja, um chope”, completa, rindo, mas se contentando com um café estilo carioca adoçado com um sachê de açúcar. Há leveza na forma com Otto olha para o movimento da rua João Moura, analisa a carreira e recebe dois pedidos para fotos (um deles, do garçom do local). “Existe o popular de rádio. Eu sou o popular da rua”, brinca.
Ele justifica a tranquilidade à maturidade atingida aos 47 anos de vida, completados no próximo domingo, 28, na última das três apresentações da estreia de Otto Recupera em São Paulo, no Sesc Pinheiros (ele também se apresenta nesta sexta, 26, e sábado, 27). São também mais de duas décadas desde que a carreira artística começou – primeiro como percussionista, até decidir ir para a frente do palco, como artista solo.

A nova série de shows busca recuperar canções deixadas pela estrada, ao longo dos cinco discos lançados, com uma nova roupagem, mais “rock and roll”, como ele mesmo diz. A estética da turnê é regada a pós-punk, com jaquetas de couro, coturnos e cores simples, preto e branco. A direção artística do show é assinada pelo próprio Otto – que, desta vez, não terá a companhia de Pupillo, baterista da Nação Zumbi e companheiro de Otto há tempos. “Acho que adquiri confiança, um público próprio”, conta Otto. “É um show para o qual vou pensar mais, pensar na arte, em como vamos soar. Acho que é maturidade, mesmo.”

Otto passou as duas últimas semanas ensaiando as “novas velhas” canções com a Jambro Band, atualmente formada por Guri (guitarra), Junior Boca (guitarra), Carranca (bateria), Rian Batista (baixo), Marcos Axé (percussão), Malê (percussão) e Bactéria (teclado) – o último, aliás, assume a guitarra em certos momentos. “Houve uma geração da Jambro Band de Daniel Ganjaman, houve então a de Fernando Catatau”, diz Otto. “Agora, ela está nessa nova fase. Talvez esta seja a minha.”

Do repertório resgatado na turnê, há um apanhado da carreira de Otto. Nenhum show do pernambucano focou exclusivamente em um ou outro disco, como ele mesmo ressalta, mas a ideia é que o passeio pela obra dele seja ainda mais abrangente. São canções bastante pedidas pelos fãs, até mesmo como O Que Dirá O Mundo e Miss Apple e Zé Pilantra ambas do recente The Moon 1111, adaptadas para esse “novo Otto”.

“É essa a ideia, mesmo, recuperar. Buscar esses novos sons. Nunca fiz um show inédito. E, assim, é preciso carregar os clássicos conosco, sabe? Eu sou um crooner clássico”, conta Otto, lamentando limar do repertório canções como Dias de Janeiro e Ciranda de Maluco. “Pra mim, tirá-las já é difícil. São músicas que me seguraram até hoje, sabe?” Das canções pouco tocadas, ou inéditas, ainda estão Londres e Pelo Engarrafamento, de Condon Black (2001), e Quem Sabe Deus e Indaguei a Mente, de Sem Gravidade (2003).

Recupera é o primeiro passo para o que virá a ser Ottomatopeia, sexto álbum da carreira do pernambucano. O disco, segundo ele, terá aquilo que vem sido aperfeiçoado nos últimos discos, Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos (2009) e The Moon 1111 (2012), um encontro de “chanson e pop rock dos anos 1980”, contou. Uma das canções do álbum, chamada Pode Falar Caubói, estará nas três noites de show em Pinheiros.

“Minha música naturalmente caiu para esse rock and roll”, analisa. “Cantar é um aprendizado, entende? Não sabia direito o que era isso, de cantar, no meu primeiro disco. Não sabia o que eu sei hoje. Achei que cantar era como caminhar por um corredor. Mas não é assim. É como perambular por um labirinto gigantesco.”

O rock, segundo ele, está na sua vida desde a adolescência, regada a Smiths e The Cure. “E o mundo ainda está mais rock and roll. Está apocalíptico. Ainda tem gente que pergunta se o rock morreu?”, pergunta, com a bituca apagada entre os dedos. “Sou um velho roqueiro de 47 anos.”

Posso ajudar?