Inicialmente vamos recordar algo que ocorre mesmo quando estamos apenas conversando com amigos: o modo como organizamos aquilo que dizemos para sustentar algum ponto de vista inclui, necessariamente, um tópico frasal e sua fundamentação. O tópico frasal, com a essência do nosso ponto de vista; a fundamentação, com a sustentação lógica dele, composta, em geral, de fatos e depoimentos de outras pessoas, usados por nós para comprovar a consistência do que dissemos. Esta estrutura mínima formada dos dois elementos indispensáveis ao texto dissertativo, porém, pode ser enriquecida com o acréscimo de uma abertura introduzida antes do tópico frasal, e, de uma conclusão incluída depois da fundamentação. Da conclusão trataremos em outra ocasião.
Uma das possibilidades de criação de abertura da estrutura dissertativa é a que gera expectativa para a revelação do ponto de vista. Esta expectativa pode ser provocada por uma frase afirmativa que prenda a atenção de nosso interlocutor ao tema de que vamos tratar, já vimos antes. Mas, pode, também, ser feito de modo mais simples com uma indagação endereçada diretamente a nosso interlocutor. Se quisermos, por exemplo, apresentar a ele um ponto de vista sobre a situação das florestas brasileira, podemos concentrá-lo no seguinte tópico frasal: “As florestas no Brasil estão morrendo”. Teremos, obviamente, de demonstrar isto, em seguida, para sermos convincentes. Contudo, antes de verbalizar nosso ponto de vista, podemos criar certo suspense na nossa conversa com uma simples pergunta, como, por exemplo: “Você sabe o que está acontecendo com as nossas árvores?”. Esta pergunta também funcionará como abertura de nosso texto oral dissertativo.
Além desta, há ainda outra possibilidade. Para criar a abertura, você conta um acontecimento de que tenha participado ou somente testemunhado. Insere, assim, na estrutura do texto dissertativo um pequeno segmento narrativo, antes de defender o ponto de vista de que as florestas brasileiras sofrem um processo de extinção. Você pode contar, por exemplo: “Na semana passada, voltei à cidade do interior em que nasci. Fui procurar as árvores onde subia, quando criança. Não encontrei nenhuma”.
Incidentes do cotidiano, como este, são frequentemente usados por oradores e cronistas, antes de introduzirem em seus textos – orais num caso, escritos no outro – o ponto de vista que irão defender, lembra Othon Garcia, em “Comunicação em prosa moderna”.
No lugar do incidente do cotidiano, lembra ainda o autor, neste tipo de abertura denominada por ele de “Alusão histórica”, podem ser usados um fato da História, uma anedota, uma lenda, ou, um breve relato de crendice ou de manifestação de tradição.
Rui Barbosa, por exemplo, conta Garcia, sustentou num discurso um ponto de vista sobre a importância do Poder Judiciário na História Política de um povo. Seu discurso, porém, ele iniciou com o relato de uma lenda que envolve um sino existente no estado norte-americano da Filadélfia. Chamado Sino da Liberdade, o sino teria sido usado para anunciar o momento no qual os Estados Unidos se tornaram independentes da Inglaterra. E, segundo a lenda, teria se partido quando John Marsahll, o principal fundador do Direito Constitucional dos Estados Unidos, morreu, no dia 6 de julho de 1835.
Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP