Os pacientes de planos de saúde têm até três vezes mais médicos disponíveis do que os usuários da rede pública, mostra estudo feito pela Faculdade de Medicina da USP e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e divulgado nesta segunda-feira, 30. De acordo com a pesquisa Demografia Médica no Brasil 2015, 21,6% dos médicos trabalham apenas no setor público, 26,9% estão exclusivamente na rede privada e outros 51,5% atuam nas duas esferas, o que indica que 78,4% dos médicos têm vínculos com o setor privado e 73,1%, com o setor público.
Apesar da similaridade nos índices, a desigualdade ocorre porque apenas 25% da população brasileira tem convênio médico, enquanto 75% depende do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Essa desigualdade pode melhorar com políticas públicas de saúde, com maior capacidade administrativa e com a criação de uma carreira de Estado para os médicos, que traga perspectivas de progressão e melhores condições de trabalho”, diz Carlos Vital, presidente do CFM.
Distribuição
Ainda de acordo com o estudo, 59% dos médicos brasileiros são especialistas, o que equivale a 229 mil profissionais. O Estado de São Paulo tem mais especialistas do que a soma das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. São 68 mil médicos do tipo no Estado contra 61,6 mil nas três regiões.
Metade dos especialistas do Brasil se concentram em apenas seis áreas: clínica médica, pediatria, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, anestesiologia e cardiologia. As especialidades com o menor número de profissionais são genética médica, cirurgia da mão e radioterapia.
O estudo mostrou ainda que o índice de médicos por 1.000 habitantes cresceu nos últimos cinco anos, mas ainda está aquém da taxa recomendada pelo próprio Ministério da Saúde. Em 2010, a taxa era de 1,95 profissionais do tipo por 1.000 brasileiros. Neste ano, o índice chegou a 2,11, número inferior ao índice de 2,5 considerado ideal para garantir uma assistência adequada à população.
O maior desafio, no entanto, ainda é a distribuição desigual de médicos entre as regiões brasileiras. No Sudeste, a proporção de médicos pela população é de 2,75, contra 1,09 no Norte.
A maior disparidade ocorre quando comparado o número de doutores que trabalham nas capitais contra os que atuam no interior. Embora as primeiras reúnam apenas 23,8% da população do País, 55,2% dos médicos estão nessas cidades.
Mais mulheres
A pesquisa mostra que a proporção de mulheres formadas em medicina vem crescendo ano a ano em comparação ao número de homens. Em 2014, dos novos registros de médicos no País, 54% foram de profissionais do sexo feminino.
Como determinadas especialidades são ocupadas majoritariamente por um dos gêneros, é possível que o aumento de mulheres na profissão provoque uma mudança na disponibilidade de médicos especialistas. Haveria um aumento de dermatologistas, pediatras e médicos da família, especialidades ocupadas em sua maioria pelo sexo feminino, e a queda de urologistas, ortopedistas e cirurgiões, áreas com concentração de profissionais do sexo masculino.
“É uma tendência internacional o aumento de mulheres na medicina e isso pode ser muito bom para sistemas de saúde ordenados pela atenção básica, como o nosso. Por outro lado, os homens são maioria em todas as especialidades cirúrgicas. Precisamos começar a discutir essas diferenças na formação médica”, diz Mario Scheffer, professor da FMUSP e coordenador do estudo.
Ele ressaltou que, embora o número de mulheres esteja crescendo na carreira, as condições de trabalho não são iguais. “Elas têm jornadas de trabalho e número de empregos muito parecidos aos dos homens, mas ganham muito menos”, afirma.