Variedades

Paço abre últimas mostras no prédio que ocupou desde 1994 na Cidade Universitária

Este será o “ano do Paço nômade”. É como a diretora do Paço das Artes, Priscila Arantes, define a por ora indefinida situação da instituição, que, a partir de abril, terá de deixar o edifício onde realizava, desde 1994, suas atividades na Cidade Universitária.

Com a notícia, na semana passada, de que o Instituto Butantan decidiu retomar seu prédio para estruturar uma fábrica de vacina da dengue, o Paço das Artes, vinculado à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, ficou mais uma vez sem sede. É em clima de despedida, portanto, que a instituição inaugurou nesta quinta-feira, 28, a exposição Programando o Visível, que traz obras inéditas do cineasta e artista Harun Farocki (1944-2014); e as mostras da primeira etapa da Temporada de Projetos 2016 – com exibição de trabalhos de Alex Oliveira, Anaisa Franco e Sergio Pinzón e da coletiva Jogo de Forças, projeto curatorial de Philipe F. Augusto, selecionados pelo edital criado em 1996. Mais ainda, a dupla Dias & Riedweg realizou no Paço a performance Nada Quase Nada, originada de sua instalação Blocão, de 2014 – e a ação foi registrada em vídeo.

Em 2010, Harun Farocki participou da 29.ª Bienal de São Paulo com a videoinstalação Serious Games. Na época, aquela que era sua mais recente criação fazia uma reflexão sobre o uso da animação computadorizada tomando como mote o processo terapêutico desenvolvido com soldados norte-americanos que haviam passado por situações traumáticas no Oriente Médio. Agora, em Programando o Visível, o público brasileiro tem a oportunidade de ver o passo que o diretor checo-alemão, consagrado no campo das artes visuais, deu adiante nessa pesquisa com a concepção da instalação Paralelo I-IV, de 2014, último trabalho de Farocki. É uma obra sobre “a história da imagem”, afirma a curadora Jane de Almeida – nela, o artista discorre sobre o “mistério da representação” desde a construção da perspectiva para dar “historicidade” aos games.

No Paço, Paralelo, que pode ser definido como um projeto discursivo – ou teórico, é apresentado por meio de quatro projeções nas quais Farocki compara imagens reais e computadorizadas e pergunta – “Por que estamos produzindo essa imagem dessa forma?”, sintetiza a curadora. “Suas questões são lançadas para o próximo século”, opina ainda Jane de Almeida, destacando uma das indagações principais colocadas pelo cineasta: “Será que a composição de imagem computadorizada vai liberar o cinema para outra função assim como a fotografia liberou a arte para a abstração?”.

A mostra de Farocki é formada ainda por mais dois trabalhos importantes. Interface (1995), como diz a curadora, marca a entrada do cineasta para as galerias de arte com sua reflexão sobre “editar filmes a partir de imagens existentes”. Já o histórico Frases de Impacto, Imagens de Impacto. Uma Conversa com Vilém Flusser (1986) apresenta reflexões do diretor e do filósofo sobre a mídia por meio da análise da capa de um jornal alemão. Programando o Visível será encerrada com a realização de um colóquio e o lançamento de uma publicação feita em parceria com o Cinusp que reunirá textos de estudiosos e as falas de Farocki traduzidas de suas obras.

Encerramento

Até 27 de março, o Paço das Artes também apresentará a obra Impermanência, de Marcia Vaitsman, mas, como o espaço tem 1,5 mil m² de área expositiva, será possível abrir no próximo dia 2, às 17 h, a mostra Antigos Artefatos / Novas Interpretações, da artista e professora Inês Raphaelian. O visitante da instituição também encontrará prorrogada a exibição da peça Títulos, de Thiago Honório. Depois de encerrada sua atividade na Cidade Universitária, o Paço distribuirá sua programação de 2016 pelo Museu da Imagem e do Som e pela Oficina Cultural Oswald de Andrade.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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