Estadão

Padres ultraconservadores fazem mobilização a favor de Bolsonaro

A estratégia do presidente Jair Bolsonaro (PL) para atrair público nos atos deste 7 de Setembro ganhou o reforço de padres e grupos ultraconservadores da Igreja Católica. Às vésperas do feriado, o candidato à reeleição e os religiosos atuaram de forma quase sincronizada. Nos sermões alinhados aos discursos de Bolsonaro, os sacerdotes chegaram a explorar notícias sobre a situação dos cristãos na Nicarágua para sugerir risco de fechamento dos templos com uma eventual vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No início da tarde de terça-feira, Bolsonaro participou de uma missa na Paróquia São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, frequentada por militares, na Asa Norte, em Brasília. Foi recebido pelos fiéis aos gritos de "mito" e abençoado pelo padre Jean Marcos.

"O presidente tem uma missão maior para cumprir", afirmou o religioso. Por sua vez, Bolsonaro disse que pedia a Deus para o "povo" não experimentar as "dores" do comunismo.

Sermões alinhados ao discurso de Bolsonaro predominaram nas redes de apoio ao presidente. Com dois milhões de seguidores na internet, o padre Paulo Ricardo, de Mato Grosso, convocou fiéis para uma novena pela "natividade do Brasil".

"As pessoas perdem suas liberdade numa concentração de poder, porque este pessoal que concentra poder está prometendo um futuro melhor, liberté, égalité, fraternité ", declarou o padre, em um vídeo divulgado nas redes.

<b>Blogueiro</b>

Apoiadores de Bolsonaro usaram a declaração do padre Paulo Ricardo em vídeos com imagens de manifestações de rua e trechos do Hino da Independência.

Referência no catolicismo ultraconservador, Paulo Ricardo foi professor no seminário de Allan dos Santos, blogueiro que tem mandado de prisão em aberto por ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e atualmente vive foragido nos Estados Unidos.

Nas últimas semanas, as referências ao padre se intensificaram nas redes de Bolsonaro com a notícia falsa de que o religioso tinha sido censurado pelo Supremo.

Na verdade, a Corte determinou, em março passado, que grandes canais no Telegram sejam monitorados pela plataforma para combater a desinformação. A decisão alcançou o canal do padre.

O episódio foi usado, sem contexto, pelo perfil oficial do Gettr Brasil, uma rede social americana de extrema-direita, em uma publicação na sexta-feira.

<b>Daniel Ortega</b>

Um dos temas que o padre aborda é a Nicarágua, onde religiosos estão sendo alvo do governo de Daniel Ortega. "A perseguição à Igreja na Nicarágua acendeu um alerta em muitos católicos no Brasil", disse o religioso nas suas redes sociais.

Militantes bolsonaristas usam a situação do país da América Central para dizer que Lula pode fazer o mesmo, caso seja eleito em outubro.

A Justiça Eleitoral mandou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, apagar publicações que faziam essa associação.

<b>Sermões</b>

Os Arautos do Evangelho, uma associação católica ultraconservadora, também estimulam o apoio à reeleição de Bolsonaro. Investigado por denúncias de assédio e agressões físicas contra jovens internos, o grupo é ligado ao Instituto Plínio Corrêa de Oliveira.

A deputada Carla Zambelli (PL-SP), apoiadora do presidente da República, tem propagado sermões da associação católica que sugerem um aspecto divino nas escolhas pró-Bolsonaro. "Sabemos que as escolhas devem ser feitas em função de Deus", diz a parlamentar ao padre Alex Brito, em um vídeo.

Outros grupos ultraconservadores católicos estão dedicados a estimular os atos convocados por Bolsonaro neste 7 de Setembro. O Centro Dom Bosco (CDB), que busca se contrapor à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem servido à militância do presidente com conteúdo a favor das manifestações.

A entidade é influenciada por ideias do escritor e guru bolsonarista Olavo de Carvalho – que morreu em janeiro deste ano nos Estados Unidos – e de d. Bertrand de Orleans e Bragança, monarquista e ultraconservador. Uma das expoentes do Centro Dom Bosco é a atriz Cássia Kiss.

<b>Resposta</b>

A ala predominante da Igreja Católica reagiu aos acenos de sacerdotes e religiosos a atos com viés antidemocrático. Na terça, 450 padres divulgaram uma carta em que mencionam dez motivos para que os católicos reflitam sobre o atual governo.

"Em 2018 a população, enganada por fake news, desmotivada por crises econômicas, escândalos de corrupção e insuflada por discursos de ódio, acabou por eleger Jair Bolsonaro. Uma catástrofe anunciada!", diz a carta. "Hoje, distante quatro anos daquele momento, nós, padres, conscientes do nosso dever de pastores do povo de Deus, queremos alertar para o perigo de repetirmos o mesmo erro."

O presidente da CNBB, d. Walmor Oliveira de Azevedo, afirmou que comemorar a Independência do Brasil exige não tolerar ataques à democracia e às instituições que possibilitam a participação popular nas decisões. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

Posso ajudar?