Sem receber qualquer assistência por parte da Prefeitura, que mantém o parque, o ajudante geral Douglas Rodrigues Ribeiro, de apenas 23 anos, morreu diante de dois de seus três filhos. Ele carregava um bebê de nove meses no colo e levava pela mão o outro de dois anos.
Testemunhas relatam que Douglas chegou a pedir ajuda diversas vezes, dizendo que estava com dificuldade de enxergar, que seu corpo estava travando e que não conseguia segurar o bebê de 9 meses que estava em seu colo. Desesperado, pediu que visitantes ligassem para sua esposa e sua tia, enquanto implorava: “cuidem dos meus filhos”.
Apesar da gravidade do quadro, segundo as testemunhas, não havia no zoológico qualquer estrutura de atendimento de urgência. O local, que recebe até 10 mil visitantes, entre famílias e crianças, todos os finais de semana, não contava no momento do incidente com qualquer ambulância, profissionais de saúde, equipamentos de primeiros socorros ou servidores treinados para agir em situações emergenciais.
Socorro prestado por visitantes.
Diante da falta de assistência por parte da Prefeitura, administrada pelo prefeito Lucas Sanches (PL), foram os próprios visitantes que tentaram prestar os primeiros cuidados. Uma testemunha conta que segurou o bebê para evitar que caísse, enquanto outros ajudaram a deitar Douglas na sombra, a oferecer água e a manter as crianças em segurança.
Entre eles estava uma moradora de Guaianases, Eliete Sandra Cavalcante, que foi ao zoológico pensando em um futuro passeio com os atendidos pela ONG que preside. Ela saiu em choque: “Eu fiquei indignada com a falta de responsabilidade daquele lugar. Nunca mais volto lá. ”
Elite conta ainda que, em meio ao desespero, ouviu de uma funcionária que, se quisesse que o Samu chegasse mais rápido, deveria sair do zoológico e pedir ajuda a vendedores ambulantes em frente ao parque, pois eles “teriam contatos” para agilizar o chamado.
Para a testemunha, a orientação foi absurda e expõe a falta de direção e preparo dentro do equipamento público. “Como pode? Eu estou dentro de um zoológico público, cheio de crianças e idosos, e a orientação é sair para pedir socorro em uma banca de pastel? Nós fizemos o que podíamos, mas não tínhamos condições de salvar. ”
Demora
Douglas não recebeu nenhum atendimento dentro do zoológico. Nem Samu, nem ambulância, nem viatura policial chegaram a tempo. O 190 também não respondeu com urgência. Toda a tentativa de socorro partiu de visitantes, que improvisaram como puderam enquanto o jovem agonizava diante dos filhos pequenos, segundo contaram as testemunhas ao GWeb.
Segundo Luana Quintino, que é prima da esposa de Douglas, foram os frequentadores do parque que ofereceram um carro para levá-lo em busca de ajuda. “No caminho, eles encontraram uma ambulância e colocaram ele dentro. Mas já chegou sem vida a UPA Paulista”, relatou.
A morte mostra a total falta de preparo e de estrutura em um equipamento público que deveria prezar pela segurança dos visitantes. Uma vida foi perdida não apenas pelo mal-estar, mas pela ausência completa de atendimento rápido, especializado e humano.
O que diz a esposa
Sthefanny Bernardo, de 20 anos, esposa de Douglas, classificou o ocorrido como um “descaso total” e afirmou que, no início do mal-estar, havia condições de socorro, mas nada foi feito. Segundo ela, se não fossem duas mulheres que tentaram pedir ajuda e cuidar das crianças, o marido teria morrido sozinho ao lado dos filhos.
A esposa lembra que Douglas era um jovem cheio de planos, trabalhava duro para sustentar a família, estava tirando a habilitação e sonhava em levar os filhos ao estádio do Corinthians quando fossem maiores. “Esse sonho foi interrompido de uma maneira dura e cruel”, disse.
“Ele estava com nossos filhos, quem o conhecia sabia o amor que tinha por eles”, afirmou ao GWeb. Ao falar do impacto da perda, a esposa se emociona: o filho mais velho tem apenas dois anos e não entende por que o pai não voltou para casa. “É uma dor que jamais vai passar.”
Douglas deixa esposa e três filhos pequenos, um de 6 anos é de outro relacionamento e não mora com o casal.
O GWeb encaminhou uma série de perguntas (ver abaixo) à Prefeitura e aguarda a manifestação da Subsecretaria de Comunicação.
- Por que um parque municipal, por onde passam cerca de 10 mil visitantes, não tem qualquer atendimento de emergência a seus frequentadores?
- A Prefeitura não mantém qualquer estrutura de emergência no local? Não há profissionais habilitados para a prestação dos primeiros socorros?
- Diante da ausência deste tipo de estrutura, não deveria haver ambulância para este tipo de atendimento emergencial?
- Após o ocorrido, quais foram as ações da Prefeitura de Guarulhos em relação a este caso?


