A comissão da Câmara dos EUA que investiga o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 encaminhou ontem à Justiça a sugestão de quatro acusações criminais contra o ex-presidente Donald Trump, algo sem precedentes na história americana. Foram 18 meses de uma apuração que expôs intenções golpistas de Trump para impedir a certificação de Joe Biden como presidente.
Por unanimidade, o grupo aprovou o relatório final da investigação, que só deve ser publicado nesta quarta-feira, 21, e encaminhou ao Departamento de Justiça ao menos quatro acusações contra Trump: obstrução de um processo oficial do Congresso, conspiração para fraudar o governo, conspiração para fazer uma declaração falsa e incitar ou auxiliar uma insurreição. Como a comissão não tem poderes legais, caberá ao Departamento de Justiça decidir se processa ou não o ex-presidente.
O relatório final diz haver indícios de que o ex-presidente cometeu vários crimes, em um cenário em que Trump já se vê enfraquecido por outras investigações e derrotas importantes nas eleições de meio de mandato deste ano. Das 17 conclusões específicas do relatório, 15 focam no papel do republicano na conspiração e no caos resultante da invasão ao Congresso americano.
O grupo também encaminhou acusações contra outros cinco aliados de Trump – Mark Meadows, seu último chefe de gabinete, e os advogados Rudolph Giuliani, John Eastman, Jeffrey Clark e Kenneth Chesebro – para possíveis processos no Departamento de Justiça. Se forem aceitas pelos promotores federais e consideradas procedentes em um julgamento, as acusações poderiam resultar em longas sentenças de prisão.
O painel também encaminhou acusações contra quatro membros republicanos do Congresso à Comissão de Ética da Câmara, incluindo o deputado Kevin McCarthy, atual líder da minoria e cotado para ser o próximo presidente da Casa. Ele foi acusado de não cumprir as intimações do grupo.
"O Congresso fez o que precisava ser feito: dar alguma satisfação no sentido de investigar uns dos piores ataques à democracia dos EUA na história", afirmou o professor associado do Berea College, do Kentucky, Carlos Gustavo Poggio ao Estadão.
<b>Interferência</b>
A comissão, que será dissolvida no dia 3 com a nova Câmara liderada pelos republicanos, conduziu mais de 1 mil entrevistas, realizou 10 audiências públicas assistidas nacionalmente e coletou mais de 1 milhão de documentos desde que foi lançado, em julho de 2021. Na sessão de ontem, o grupo apresentou trechos de entrevistas e conversas telefônicas do ex-presidente pedindo para autoridades estaduais interferirem nos resultados das eleições.
O conteúdo completo do relatório só será revelado amanhã. Ele deverá conter recursos interativos, vídeos e gráficos do ataque ao Capitólio. Os tópicos incluem a divulgação de mentiras de Trump sobre a eleição, a criação de listas falsas de eleitores pró-Trump em Estados vencidos por Biden e a campanha de pressão do ex-presidente contra autoridades estaduais, o Departamento de Justiça e seu então vice-presidente, Mike Pence.
Caso aceite processar Trump, o Departamento de Justiça quebraria o precedente de presidentes em exercício não utilizarem a burocracia estatal para investigar antecessores, explica Poggio. "Pode abrir uma caixa de Pandora, particularmente nesse ambiente de extrema polarização política no país."
O Departamento de Justiça já está conduzindo a própria investigação sobre o 6 de Janeiro e acabou seguindo muitos dos testemunhos e descobertas feitas pelo Congresso. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>