De versões de clássicos de filmes de terror a acrobacias acompanhadas por uma pequena orquestra. A guitarra deu as caras pela última vez como o instrumento-base para o heavy metal e rock pesado nesta sexta-feira, 25, como atração do Palco Sunset, mas não se despediu de forma melancólica. Trouxe peso nesse canto do cisne do instrumento no Rock in Rio 2015.
Nos dois dias restantes, ela será deixada de lado para outras experimentações. Neste sábado, 26, abre as portas das influências mais africanas, desde o encontro de Angelique Kidjo e Richard Bona, e Sérgio Mendes e Carlinhos Brown. Claro, há, por exemplo, Erasmo Carlos e Ultraje a Rigor, e Brothers of Brazil e Glen Matlock, mas em nenhum deles o grave da guitarra passeia por caminhos obscuros e perigosos. No domingo, 27, então, nada chegará ao nível de ruído exibido nesses dias dedicados ao rock and roll.
De Steve Vai a André Abujamra, a guitarra teve seu protagonismo em uma tarde de público razoavelmente morno no Sunset. Talvez o calor do dia anterior exaltado nos noticiários tenha assustado aqueles que cogitaram chegar cedo à Cidade do Rock. Quem sofreu com isso foi o Sunset e suas atrações iniciadas sempre às 15h15. Dizer que havia mais de duas centenas de pessoas para a primeira atração de lá, o especial Clássicos do Terror, é arredondar para cima.
O fato é que nenhum deu as caras, calor e público em grande peso. Como um feitiço, o Clássicos do Terror, projeto formado por André Moraes, André Abujamra, Constantine Maroulis e a The Heavy Metal All Stars, parece ter irritado São Pedro, porque bastou o grupo subir ao palco para reinterpretar canções tradicionais de filmes de terror, que nuvens (essas, sim, assustadoras para quem ainda tinha um longo dia pela frente) surgiram pelo lado esquerdo, tomaram o céu e encobriram a arena por completo.
A grande jogada da divertida experiência do Clássicos do Terror, aliás, foi mesmo a protagonista de seis cordas. Ela não era o instrumento escolhido para as trilhas sonoras e ganhou peso. Músicas icônicas de Halloween e Psicose se aproximaram perigosamente do heavy metal. Moraes e Abujamra comandam a guitarra na performance e, para encerrar, duelam no riff de Hallowed By Thy Name, um daqueles clássicos icônicos do Iron Maiden cantados em alto e bom som pelo público em suas apresentações.
Se havia variações entre canções mais pesadas e leves, o Moonspell apareceu para colocar os graves no seu devido lugar. Era dia de metal, afinal. Com ares góticos, os portugueses liderados pelo carismático Fernando Ribeiro, dono de um vistoso par de costeletas avolumadas, cantam músicas em português – ao menos, quando é possível decifrar o que está urrando o vocalista. Derrick Green, voz do Sepultura, foi convidado e eles, juntos, executaram Roots Bloody Roots.
Do peso português, a guitarra foi levada para um passeio pela Finlândia, a bordo das canções do Nightwish. Deixou o peso para trás sob os cuidados de Emppu Vuorinen. Na banda de metal sinfônico, os teclados dão os ares épicos, como grandes canções celtas perdidas no tempo, só reencontradas agora. A guitarra funciona para definir o gênero. Ainda estamos no âmbito headbanger, mesmo que seja razoavelmente difícil “bater cabeça” ao som da voz lírica de Floor Jansen, vocalista do grupo desde 2012.
Por fim, um herói da guitarra tem as honras de fazer a despedida do instrumento. Acompanhado da Camerata Florianópolis, Steve Vai encerrou as atrações do Sunset. Houve um estranhamento de início, diante do encontro da guitarra e a sinfônica, mas aos poucos, o “date” esquentou – e ninguém ficou de vela. Se não foi um dia de tanto apelo popular, a guitarra, ao menos, pôde dar seu grito derradeiro.