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Palco Sunset traz em 2015 mistura sem tempero ao Rock in Rio

Se a ideia era colocar itens distintos e ver qual é o sabor desse angu, faltou tempero. Nas duas últimas edições do Rock In Rio no Brasil, o palco Sunset foi alardeado como o local da mistura. Onde o improvável acontece. Em 2015, se a ideia era a mesma, faltou tempero. Encontros aos montes, mas nada que colocasse o artista fora da sua zona de conforto.

É importante ressaltar: a escalação do palco, neste primeiro fim de semana, ofereceu performances de primeira grandeza. Algumas delas, aliás, erroneamente escolhidas para esse espaço secundário na Cidade do Rock. Das quatro atrações do domingo, 20, três mereciam um lugar de maior destaque na programação do festival. John Legend, com seu neo-soul e um Oscar na prateleira, tem credenciais de sobra para tocar no Palco Mundo. Daria oportunidade a mais casais de dançarem abraçadinhos com suas baladas.

E, por que não ver um Magic! no espaço principal do evento? Por mais que o reggae fusion do grupo soe descartável a longo prazo, o hit Rude, a canção do verão norte-americano do ano passado, ainda tem força por essas bandas. E levaria frescor e juventude para o Palco Mundo no qual, para conseguir uma vaga, é preciso ter ultrapassado as três décadas de carreira.

O reencontro de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, 27 anos depois, foi icônico e histórico. Show daqueles que devem (e irão, certamente) entrar na história já trintona do festival. Pepeu até chorou. Mas os discos do Novos Baianos já estavam aí para mostrar quão explosiva a mistura dos dois pode ser.

O outro show do domingo, Alice Caymmi e Eumir Deodato, não saiu da caixinha, por mais que alguns anos de diferença os separem. Era um encontro que poderia acontecer num próximo álbum dela. E ninguém ficaria surpreso com isso.

É isso. Faltou surpresa nessa mistura. Assistir Dee Snider, vocalista do Twisted Sisters, se apresentando com o Angra, foi um divertido momento de sábado, mas era rock + rock, embora subgêneros os separassem. Não são barreiras tão difíceis de serem transpostas.

Shows poderosos passaram pelo Sunset, como o citados Magic! e Legend, Korn, Lenine e um tributo à Cássia Eller, mas eram “solo”. Na homenagem, as cantoras que estavam no palco até repetiram a icônica imagem de Cássia levantando a camiseta e mostrando os seios. Uma repetição da mesma fórmula de show de 2013, quando Raul Seixas foi homenageado em uma sessão nostalgia. Oras, algo está errado no conceito.

Do ponto de vista logístico, alternar o último show do Sunset com o do palco Mundo causou problemas sérios de locomoção pela Cidade do Rock. Inicialmente, todos os shows do Sunset se encerravam às 20 horas, quando abria-se o Palco Mundo. Antes da apresentação derradeira da estrutura secundária, agora, inicia-se a primeira do outro.

O povo corre de lá pra cá, se esbarra, se estressa. A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo presenciou uma discussão, que quase acabou em agressão física, entre um homem e uma mulher, ambos tentando deixar o Sunset e ir em direção ao Mundo, para assistir aos Paralamas do Sucesso. Os dois não perceberam que dois corpos não conseguem ocupar o mesmo espaço e quase que uma tragédia se desenhou.

A geografia da Cidade do Rock não comporta uma deslocação em massa dessa natureza. Por volta das 20 horas, leva-se, com sorte, meia hora para se atravessar de um lado para o outro.

Ira!, Rappin Hood e Tony Tornado, atrações da sexta, 18, souberam dosar rock, hip-hop e soul de forma única. Ainda assim, de 12 shows, apenas um ter sido capaz de fazer o que propõe o palco, é pouco.

Ao fim do primeiro fim de semana, o acontecimento mais ousado foi ver dona Maria Odette, mãe de Thiago Bianchi, vocalista da banda de heavy metal brasileira Noturnall, ser chamada para um dueto com o filho em uma versão de Woman In Chains, do Tears for Fears, diante de uma aglomeração de camisas negras. Isso, sim, foi surpreendente. E diz muito. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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