O Palmeiras chegou em silêncio ao Morumbi, onde enfrenta o São Paulo pelas quartas de final da Copa do Brasil, e sairá da mesma forma. Sob a justificativa de "blindar o elenco e a comissão técnica em meio a uma sequência de jogos decisivos", nenhum jogador nem os portugueses auxiliares de Abel Ferreira deram e darão entrevistas depois do clássico. Apenas Leila Pereira falou com a imprensa minutos antes de a bola rolar em uma zona mista montada às pressas.
A presidente do Palmeiras centralizou em si as decisões e comunicados relacionados ao clube. Ela garantiu que a escolha pelo silêncio não é uma retaliação à imprensa, mas, sim, é "uma proteção" aos atletas depois da nota "tão pesada" que a CBF emitiu na última segunda-feira, apontando xenofobia nas falas do auxiliar João Martins, que disparou contra a entidade, sobretudo contra a arbitragem, chefiada por Wilson Seneme.
"Achei que seria melhor não falar nada porque o assunto não seria o jogo de hoje, mas o jogo passado. Fiquei muito preocupada que prejudicasse o desempenho dos nossos atletas e da nossa comissão", justificou a dirigente. Sua declaração alude à decisão do árbitro Jean Pierre Gonçalves Lima de não expulsar o zagueiro Zé Ivaldo, do Athletico-PR, depois de ele acertar uma cotovelada em Endrick no começo do duelo com o Athletico-PR, que terminou empatado por 2 a 2.
"Agora quem vai falar é a presidente. Nesses momentos, a presidente tem que se manifestar, sim", enfatizou Leila, referindo a si mesma na terceira pessoa. "Tentei de outras formas resolver esse problema grave, não é a primeira vez que o Palmeiras é prejudicado."
Segundo ela, os recentes erros de arbitragem contra o Palmeiras causaram um "enorme" prejuízo financeiro, esportivo e até psicológico para o clube. "Trabalhamos muito, é um investimento muito grande de energia e de dinheiro, e por causa de arbitragem estamos sendo muito prejudicados."
Ela citou, de novo, o fato de o VAR ter se esquecido de traçar a linha de impedimento no lance que resultou no pênalti cometido em cima do argentino Calleri nas oitavas de final da Copa do Brasil do ano passado. O São Paulo ganhou aquele jogo nos pênaltis e se classificou. O Palmeiras, portanto, busca revanche contra o rival tricolor.
"Eu e o Abel não viemos para o Palmeiras para sermos submetidos a esses erros absurdos e ficarmos quietos. O Abel reclama, e ele sempre reclamou com muita razão. Agora, ele vai ter a parceria da presidente, que sempre trabalhou nos bastidores, mas que viu as coisas não surtirem efeito", revoltou-se a dirigente palmeirense. "A promessa que foi feita a nós é que vai melhorar, que o investimento em tecnologia é muito grande… Mas que tecnologia é essa que não consegue detectar se uma bola entrou ou não? Isso é inadmissível para o nível do futebol brasileiro. Então, estou muito revoltada com tudo isso", acrescentou, citando a promessa de Seneme de melhorar a arbitragem brasileira.
Leila revelou que teve outra conversa com Seneme e Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, dias depois de o racha começar com a entrevista de João Martins, que disse que "o sistema" não quer que o Palmeiras ganhe o Brasileirão de forma consecutiva.
"Depois que eles soltaram aquela nota, recebi a ligação do presidente Ednaldo, que é uma pessoa que eu respeito demais. Conversei com ele e falei que o problema do Palmeiras não é com ele, e sim com a Comissão de Arbitragem. É inadmissível ter, no nosso país, uma comissão que não consegue resolver erros primários. Isso que passei para ele. Tenho contato direto e o Palmeiras sempre foi muito bem atendido", ressaltou.
Não haverá nenhum comentário dos jogadores na zona mista depois da partida nem entrevista coletiva de João Martins, que substitui Abel Ferreira, novamente suspenso. Leila não soube dizer até quando irá imperar a opção pelo silêncio.