Com o aumento dos investimentos do Palmeiras nas categorias de base, o clube se firmou como uma das forças do futebol brasileiro na revelação de talentos. A consequência mais óbvia foi a conquista recente de importantes títulos, como a Copa São Paulo de Futebol Juniores e a Copa do Brasil sub-17, ambas nesta temporada.
Outra, mais sutil, é o fato de o clube ter adotado metodologias novas, que permitem a formação de jogadores com características que se encaixem às necessidades do time e do momento. Desta maneira, sem que isso fosse uma prioridade absoluta, o Palmeiras passou a observar e revelar jogadores canhotos, tido, sem base científica, como os mais habilidosos e "diferentes" em campo.
Entre as categorias sub-15 e sub-17, são 20 jogadores com essas características. Entre eles, sete entraram em campo na última partida da Copa do Brasil, quando o Palmeiras conquistou o título: Gabriel Vareta (zagueiro), Fellipe Jack (zagueiro), Léo Jance (lateral-esquerdo), Vitor André (volante), Thalys (meia), Luis Guilherme (meia-atacante), Estevão (meia-atacante) e Endrick (atacante).
Segundo o coordenador das categorias de base do Palmeiras, João Paulo Sampaio, essa grande quantidade de canhotos não pode ser considerada mera coincidência. "Observamos com carinho esse tipo de jogador e damos espaço para eles mostrarem sua qualidade. Não priorizamos, mas o canhoto costuma ser diferenciado. Depende deles, mas estamos deixando-os à vontade. Para nós é importante ter jogadores que possam surpreender", diz.
O coordenador afirma que a expectativa é de que, em futuras negociações, a legião de canhotos renda ao clube pelo menos 100 milhões de euros, o equivalente a R$ 534 milhões. "O potencial desses meninos nos leva a projetar esses valores. Temos muito trabalho ainda, mas não somos só nós que temos essa expectativa. O próprio mercado mundial indica isso." O mercado europeu, há anos, deixou de contratar jogadores brasileiros consagrados para comprar na base, garotos, em muitos casos, ainda em formação, como aconteceu com Vinicius Junior, por exemplo, do Flamengo.
Os valores de arrecadação estimados têm como base contratos e multas rescisórias que esses canhotos fazem com Palmeiras. Endrick, por exemplo, tem multa estimada de 60 milhões de euros – é de quanto parte qualquer negociação do clube em caso de venda. Mas como se chega a esse valor da multa? O valor é feito em cima do salário mensal do atleta, que é multiplicado por 13,3 (12 meses do ano, além do 13º e de um terço das férias). O resultado é multiplicado por 100, que se refere ao número estipulado pela Fifa. O total será o valor fixado da multa do jogador.
Sampaio conta que a quantidade alta de jogadores que o Palmeiras tem revelado desde a base começou a aumentar a partir de 2015, quando, segundo ele, houve uma modernização da gestão em várias áreas. "Como o futebol é a ponta do iceberg, aparece mais, mas essa profissionalização ocorreu em todos os setores, com captação dos melhores profissionais do mercado e modernização da infraestrutura. Estamos vendo os resultados aparecerem com mais força agora, depois de alguns anos", observa.
Em estudo de contabilidade realizado em 2020 por Luís Henrique Rocha Lima, Pedro Leandro Soares dos Santos e Rogério Mina, da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), em São Paulo, ficou constatado que, em muitos casos, existe a relação entre investimentos em categorias de base e as receitas provenientes da venda de atletas formados nos clubes.
O trabalho, denominado "Impacto do investimento em categorias de base nas receitas de venda de atletas dos clubes de futebol brasileiro", apontou um amplo aumento do investimento na base do Palmeiras, entre 2014 e 2019. Os valores saltaram de R$ 9,7 milhões para R$ 25,9 milhões no período, uma alta de 167% em cinco anos. Pelo estudo, o Palmeiras, em 2019, era o segundo que mais investia na base, atrás do Flamengo.
Segundo os autores, muito em função de o futebol ser o esporte mais popular do Brasil, o aumento das cifras deu maior relevância econômica à modalidade. E os clubes encontraram na formação de atletas uma alternativa para aumentar a competitividade em campo e as receitas dentro da gestão.
"Nessa conjuntura, os clubes brasileiros, visando a ampliação das suas fontes de receitas, encontram no atleta, sobretudo aquele formado nas categorias de base, o ativo que contempla ambas as necessidades, tornar seus elencos mais competitivos e auferir receitas com futuras transferências", ressalta o estudo. O Palmeiras vendeu, por exemplo, Patrick de Paula, por R$ 33 milhões ao Botafogo.