Estadão

Palmeiras trabalha em 2023 para consolidar terceira Academia com Abel Ferreira

Em outubro de 2020, o então presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, foi questionado por jornalistas qual seria o perfil de técnico que ele buscaria para suceder o recém-demitido Vanderlei Luxemburgo e por que esse perfil ainda não havia sido definido. Na ocasião, o mandatário fez a promessa de que encontraria um profissional capaz de implementar um modelo de jogo com o "DNA palmeirense", de "futebol mais vistoso e ofensivo".

Galiotte afirmou que traria um técnico que fizesse o time jogar um futebol moderno, de transição rápida e modelo de jogo que o palmeirense tenha orgulho de ver em campo". Dias depois, foi à Grécia e fez, seguramente, a aposta mais certeira de sua gestão ao contratar Abel Ferreira, um português até então desconhecido e sem títulos.

Sob Abel, o time, então à deriva em relação ao seu modelo de jogo, virou uma equipe competitiva, intensa, com amplo repertório de jogadas e vitoriosa. Ele e sua comissão técnica de portugueses deram identidade a um Palmeiras que, antes dele, havia tido sete técnicos diferentes em cinco anos.

Galiotte queria um Palmeiras com "características históricas dos times da Academia". Muitos – talvez nem o ex-presidente – acreditavam que um jovem português com pouca experiência seria o comandante da "terceira Academia", como definiu Ademir da Guia, maior ídolo do clube e protagonista das duas primeiras.

"Eu enxergo no Palmeiras atual a arte da primeira Academia com a solidez da segunda", comparou o Divino, em declaração dada no ano passado. Ele deu a bênção para o que considera a terceira Academia. "Jogamos para frente, mas sem descuidarmos da retaguarda. Nossa força é o grupo. Em um mundo onde o individualismo vem ditando as regras, em diferentes setores da sociedade, o Palmeiras dá mais uma aula. Ensinamos desta vez sobre a importância da união".

A primeira academia nasceu nos anos 1960. A segunda, nos anos 1970. Elas existiram principalmente por causa de Ademir da Guia, símbolo de excelência com o número 10 nas costas. Ele comandou durante quase duas décadas aquele Palmeiras, o único que fazia frente ao Santos de Pelé. Foram 16 temporadas seguidas desfilando seu talento na mesma proporção com que ganhou títulos.

Dono de seis troféus, incluindo dois da Copa Libertadores, o treinador, por enquanto, diz não saber dimensionar sua importância para a história do clube. "Acredito que tudo o que fazemos no presente algum dia vai ecoar", refletiu ele no ano passado, depois de ser campeão brasileiro. "Acho que daqui a dez ou 15 anos as pessoas vão entender o que foi feito aqui. O tempo é que vai dizer o que fizemos aqui".

Se na Era Abel o time não é tão brilhante como nas duas primeiras academias, todos os conceitos criados e executados hoje estão documentados no livro "Cabeça Fria, Coração Quente", escrito pelo treinador e seus auxiliares e lançado no ano passado. Isso é um diferencial em comparação com outras equipes históricas do futebol brasileiro que não tiveram seus feitos registrados devidamente.

O torcedor que acompanha as declarações de Abel e leu o livro sabe, por exemplo, da meta 15-15-15 (finalizações, cruzamentos e desarmes). Sabe da regra de 24 horas para lamentar uma derrota ou festejar uma vitória. Tem conhecimento do limite de cinco segundos para fazer falta em um contra-ataque do adversário.

No Palmeiras, existe o pensamento de que, quando Abel sair – seu contrato é válido até o fim de 2024 e há o interesse da seleção brasileira -, independentemente de quem o suceda, seus conceitos podem continuar sendo aproveitados mesmo sem ele.

A estrutura montada, as ideias bem estabelecidas e uma safra de jovens talentosos, como o atacante Endrick, de 16 anos, permitem crer que, no futuro, o time se mantenha na rota de títulos e não volte mais a ficar à deriva como antes.

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