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Palmeirense Estevão rejeita rótulo de novo Messi: Tenho o meu estilo próprio

São 12h30 de uma quinta-feira e o menino Estevão Willian está com pressa. Terminou seu treino no Palmeiras, foi para casa para um almoço rápido e precisa ir para a escola. Ele estuda no Ensino Médio do Colégio Batista do Brasil, na Vila Mariana, um bairro paulistano não tão próximo do confortável condomínio em que mora, na Pompeia.

Ao conversar com o Estadão, sentado ao redor da mesa da sala, Estevão demonstra que lida com a pressão do dia a dia da mesma maneira com que lida com ela dentro de campo. Com segurança. Mas, em vez das arrancadas espetaculares, que o têm feito se tornar uma das maiores promessas do sub-15 do clube, sua fala é pausada, calma e tranquila. Ele só tem 15 anos e, como Endrick, chama a atenção nas categorias inferiores. Pela idade, ainda não pode ter contrato.

As jogadas em velocidade, partindo com a bola dominada, o fizeram ser comparado a Messi que, nas categorias de base do Barcelona, superava adversários mais velhos. O canhoto Estevão faz o mesmo. Passou a atuar também no sub-17, onde jogou, neste ano, mais partidas do que pelo sub-15, sua categoria por ano de nascimento.

No sub-17, são quatro gols em três jogos pelo Paulista e cinco gols em cinco jogos na Copa do Brasil, da qual a equipe se sagrou campeã no último domingo. Já no sub-15, Estevão fez seis gols em duas partidas.

Mas o jovem prefere deixar de lado qualquer tipo de comparação. Não gosta de ser chamado de "Messinho" do Palmeiras. "As pessoas precisam me ver como Estevão, que é o meu nome. Estou construindo minha trajetória, as coisas vão acontecer naturalmente, com a ajuda de Deus. Claro que é uma honra ser comparado a esse craque, tem um lado saudável, mas sou eu que vou ajudar minha equipe, com minhas decisões dentro de campo. Tenho meu estilo próprio", diz.

Estevão é mais um dos exemplos de que, no Brasil, as revelações no futebol têm algo especial. Uma ginga e uma criatividade que vêm desde os primeiros anos de vida. "Desde os três anos jogo bola. Pedia bola para o meu pai, sentia felicidade em jogar. Sinto essa mesma felicidade hoje", observa o meia.

Já com seis anos, o menino passou a admirar Messi e Neymar. Nunca se esquece do drible que Messi deu em Boateng, do Bayern de Munique, tocando para um lado e depois para o outro, na semifinal da Liga dos Campeões de 2014-2015. "Aquela jogada serviu como uma das minhas referências. Jogadas assim me ajudam, no campo, a partir para cima, de repente faço sem pensar, acontece naturalmente, mas procurando fazer do meu jeito", ressalta.

Estevão já usa a camisa 10 e atua como meia-atacante, avançando também pelos lados do campo. Recebe o estímulo e o apoio de sua família. Nascido em 24 de abril de 2007, logo aos oito anos ele foi morar em Belo Horizonte. Passou a jogar pelo Cruzeiro, a convite de dirigentes do clube, que viram um DVD de suas atuações no futsal, pelo Toque de Bola, de Franca (SP), sua cidade natal.

Em abril do ano passado, se mudou para o Palmeiras, em busca de um centro mais competitivo, vinculando-se ao Palmeiras por um contrato de formação. Com o que a família recebe, foi possível se mudar para São Paulo e alugar o apartamento. Estevão mora com o pai, Ivo Gonçalves, a mãe, Hetiene, e a irmã mais nova, Esther, de sete anos.

A escola de Estevão também tem dado suporte para o garoto no futebol, remanejando horário de aulas e dando uma bolsa de estudos ao jovem. "Ouço sempre meu pai, minha mãe, que estão sempre comigo desde criança e vão estar sempre, em qualquer situação. E sei que os estudos são importantes, acompanho as aulas com atenção", diz. A família sabe que será difícil, neste momento, Estevão iniciar os estudos universitários, a não ser que seja possível realizar o curso a distância.

PARCERIA COM ENDRICK
Em relação ao atacante Endrick, outra revelação palmeirense, Estevão diz que ambos têm demonstrado bom entendimento dentro e fora de campo. "Conversamos sempre antes do jogo, combinamos de ir para cima, de tabelar, de buscar o gol. No jogo, as coisas acontecem", conta.

Segundo João Paulo Sampaio, coordenador de base do Palmeiras, Estevão se diferencia por um conjunto de qualidades. "Ele se destaca pela técnica, condição física e mental e por sua fome de jogar futebol e querer aprender. Essa fome o faz treinar muito. Estevão tem o perfil dos grandes craques do futebol mundial, estamos trabalhando para que a expectativa se torne realidade", afirma.

Já Ivo, que foi goleiro da Francana e depois trabalhou nas categorias de base do clube, vê, no filho, a capacidade de ajudar a resgatar a essência do futebol brasileiro. "Valorizamos muito a seleção brasileira e, a partir dos 7 a 1 (derrota para a Alemanha na Copa de 2014), nunca mais as coisas se encaixaram de mesmo jeito no futebol brasileiro. Jogadores como Estevão têm essa condição de resgatar nossa essência, de o futebol brasileiro voltar a jogar com alegria", diz.

Para ele, Estevão tem muito a caminhar ainda até se tornar profissional. "A gente procura ao máximo estar com o pé no chão, sabendo que a caminhada é longa, que tem muita coisa, pensamos sempre que é um dia após o outro", diz. A pressa de Ivo, neste momento, é outra. Ele quer que o filho se apronte logo para sair. Não quer atrasos. Será ele, como sempre, que o levará para a escola.

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