Estadão

Pandemia reformula operação logística do COB para os Jogos Olímpicos de Tóquio

O envio de 20 toneladas de materiais para o Japão, que serão usados pelo Time Brasil para a preparação para os Jogos de Tóquio, ganhou uma carga extra por causa da pandemia de covid-19. Para reforçar as medidas sanitárias da delegação, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) adquiriu 68 mil máscaras descartáveis, 12.500 sapatilhas TNT, 400 borrifadores de álcool e 250 aventais, entre outros produtos utilizados no combate ao coronavírus.

"Em condições normais, os Jogos Olímpicos de Tóquio já nos exigiriam um grande desafio em relação ao fuso horário, ao clima e à alimentação. Mas a pandemia tornou a complexidade da operação ainda maior. Além de toda a estrutura oferecida, temos de proteger o nosso atleta, diminuindo o risco de contaminação pelo coronavírus", explicou Marco La Porta, vice-presidente do COB e Chefe de Missão do Time Brasil em Tóquio.

No total são 20 contêineres que terão seus conteúdos espalhados por nove bases (Saitama, Sagamihara, Miyagase, Ota, Chuo, Koto, Enoshima, Tsurigasaki e Hamamatsu) para a aclimatação da delegação. Entre os itens enviados estão barcos e botes (vela), tatames para os esportes de combate, sacos de soco para o boxe, aparelhos de musculação mais modernos e materiais de treinamento do levantamento de pesos, entre outros.

"Em uma das visitas que fizemos ao Japão, identificamos também que as academias que vamos utilizar eram bem equipadas, mas voltadas principalmente à comunidade local. Como precisávamos de materiais para o alto rendimento em nossas bases, optamos por levar mais aparelhos de força", afirmou La Porta.

A negociação com as nove bases foi feita com bastante antecedência porque o COB queria ter a melhor preparação possível para ter um ótimo desempenho em Tóquio. E no combinado com os japoneses, um dos trunfos seria a interação dos atletas do Time Brasil com os fãs locais. Mas a pandemia fez desmoronar esse projeto, até para garantir a saúde de todos, torcedores e competidores. Mesmo assim, as tratativas foram mantidas e o Brasil terá todas suas nove bases.

Em Chuo, por exemplo, será utilizada a Escola Toyomi, que fica bem perto da Vila dos Atletas. Lá haveria um espaço para o encontro dos competidores nacionais com seus familiares e amigos. Agora, por causa dos protocolos de segurança, os parentes não poderão nem viajar ao Japão para acompanhar as competições. Então por causa das medidas sanitárias, algumas bases do Time Brasil passaram por um novo planejamento para adequação às normas.

No transporte dos materiais, a operação começou ainda em 2018, com o envio de três contêineres saindo um do Brasil, outro da Espanha e o último da China. Outros cinco foram enviados em 2019 e 2020, incluindo um da Nova Zelândia. Com o adiamento da Olimpíada, parte do planejamento precisou ser alterada e a logística dos uniformes sofreu grande impacto.

Na ideia original, os atletas iriam até uma base do Time Brasil e lá haveria a distribuição dos uniformes. Seria um momento também de contato e boas-vindas, por exemplo. Mas por causa da pandemia de covid-19, a logística foi alterada e agora todos terão de informar o tamanho de roupas que usam e receberão o kit dentro de uma mala diretamente em seus quartos, evitando assim a interação entre membros da delegação.

Para ter sucesso nessa empreitada, o COB montou uma equipe médica com especialistas como Ana Corte, que tem pós-doutorado em medicina do Esporte, Felipe Hardt, que já participou de diversas missões com a entidade, Beatriz Perondi, que é coordenadora responsável pelo projeto, treinamento e atendimento de catástrofes do Hospital das Clínicas, e Ho Yeh Li, que foi a médica encarregada pelo resgate dos primeiros brasileiros infectados pela covid-19 na China.

As reuniões têm sido frequentes e são dezenas de recomendações e protocolos. Uma delas é a de não colocar no mesmo quarto atletas da mesma posição de uma equipe. Um exemplo que serve para ilustrar isso é colocar dois levantadores do vôlei na mesma habitação. Se um por acaso pegar a covid-19, o outro, por estar no mesmo ambiente, teria de ficar fora também e o Brasil ficaria sem levantador para as competições. Isso mostra o nível de detalhamento que a preparação brasileira chegou para ter sucesso nos Jogos de Tóquio.

Kentaro Motomura, prefeito de Sagamihara, vive a expectativa de receber o Time Brasil
1. Como estão os preparativos para receber os atletas brasileiros do vôlei e da natação?
Eles ficarão hospedados em um hotel onde os chefs começaram há três anos os treinamentos para aprender a preparar a culinária brasileira. Já reformamos a piscina para os treinos da natação, inclusive com blocos de largada novos. Agora, estamos em busca de voluntários para apoiar a visita dos atletas e ajustando os últimos detalhes do plano de hospedagem.

2. Quais serão os cuidados para evitar a disseminação do novo coronavírus?
Estamos seguindo a diretriz apresentada pelo governo japonês que visa evitar a transmissão do vírus durante esse período de treinamento pré-Jogos. Os atletas devem evitar completamente o contato com os nossos moradores nos primeiros 14 dias após a chegada ao Japão. Devido a esse controle de circulação, a delegação brasileira só terá acesso às áreas exclusivas de hospedagem e treinamento. Todos terão de apresentar testes negativos para a covid-19 ao desembarcar no Japão e ainda farão mais um teste no aeroporto, que terá de dar negativo também. Caso contrário, eles não poderão entrar no Japão. Além disso, os atletas serão testados diariamente aqui em Sagamihara, assim como os nossos funcionários que irão acompanhar a delegação brasileira.

3. Como responder às críticas dos moradores que têm medo de receber atletas do exterior?
Estamos tomando todas as medidas para prevenir a transmissão do vírus e informando os nossos cidadãos de que os atletas estarão sob um rígido controle de circulação. Trabalhamos para evitar mal-entendidos e visões tendenciosas que possam surgir entre os moradores.

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