O papa Francisco autorizou nesta terça-feira, 3, o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Amato, a promulgar decreto de reconhecimento do martírio de d. Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, em El Salvador, assassinado “por ódio à fé”, em 24 de março de 1980. O processo de canonização do arcebispo estava emperrado quando Francisco foi eleito, em 2013, e foi reativado por determinação sua. Amanhã, o postulador da causa, d. Vincenzo Paglia, receberá a imprensa no Vaticano para um encontro no qual provavelmente anunciará a data da canonização. Como foi considerado mártir, Oscar Romero não depende de comprovação de um milagre para ser proclamado santo.
O Estado de S. Paulo foi o último jornal a entrevistar o arcebispo de San Salvador, assassinado no início da noite de 24 de março de 1980, três dias depois de ter falado a este repórter, José Maria Mayrink, à porta do Seminário São José. “Aqui em El Salvador, todos temos medo de morrer”, respondeu d. Oscar Romero, quando lhe perguntei se não tinha medo de morrer assassinado. Em suas homilias, o arcebispo denunciava a violência e divulgava os nomes de pessoas mortas ou desaparecidas, na luta entre guerrilheiros e forças do governo. Ele disse que a Igreja era acusada tanto pela direita como pela esquerda na crise que El Salvador estava atravessando.
“Critiquei as organizações populares (de esquerda), mas a reação do governo é desproporcional e as vítimas são mais numerosas nas esquerdas”, afirmou d. Oscar Romero, ao falar da violência. “A resposta às provocações não deve ser somente militar. É preciso ouvir a voz que clama por justiça. Nos últimos dias, houve vítimas que não morreram em choques, mas em suas casas, após sequestros e torturas”, denunciou.
Apesar dos riscos, arcebispo andava sempre sozinho. Ele foi morto com um tiro no peito durante a missa que celebrava no Hospital da Providência, em San Salvador. O assassino era membro das forcas paramilitares, de extrema direita, que atuavam contra as guerrilhas, à margem da Força Armada, o exército de El Salvador. Em estado de sítio, o país era governado pela Junta Revolucionária de Governo, da qual participava a Democracia Cristã, com apoio dos Estados Unidos. O então presidente Jimmy Carter lamentou o atentado como um ato escandaloso e imoral”.