Para economistas, o aumento dos juros dos bancos públicos é uma reação esperada ao atual cenário mais desafiador enfrentado por essas instituições. Segundo Erin Celasun, diretora da Fitch Ratings e responsável pela avaliação dos bancos federais, Banco do Brasil e Caixa agem para reforçar a estrutura de capital e, ao mesmo tempo, precisam de mais dinheiro para compensar a crescente despesa com provisões para calotes. “Ainda estamos no início desse processo, e o reposicionamento pode ficar até mais visível”, afirmou.
A analista acredita que o movimento do BB e da Caixa deve continuar até que os indicadores de retorno e lucro das duas casas sejam mais parecidos com os dos concorrentes. Para Esin, a direção dos dois bancos vai recompor as margens de lucro e o limite desse ajuste deverá ser determinado pela participação de mercado. “Eles querem manter a liderança em seus segmentos principais, como a Caixa no imobiliário e o BB no crédito rural. Acho que não serão muito radicais, mas ficarão olhando para os indicadores de retorno e rentabilidade para se aproximar dos privados.”
Para a diretora da agência de classificação de risco, há um aumento da pressão sobre a capitalização desses bancos. “Atualmente, está claro que, para sustentar uma base de capital adequada, a rentabilidade dos negócios tem de ser reforçada. Além disso, haverá exigências cada vez mais rígidas de capital”, disse.
A Fitch tem monitorado de perto a evolução do capital do BB e Caixa, especialmente com a adoção das regras de Basileia 3, nova regulação internacional que exigirá mais capital dos bancos a partir de 2019. “De acordo com nossas previsões internas, pode haver necessidade de apoio de capital para os bancos públicos no Brasil”, disse a analista, que, no entanto, não detalhou o cálculo, usado apenas internamente. Erin disse acreditar que, diante dessa perspectiva, BB e Caixa se movimentam para gerar mais lucro para reforçar o capital sem ajuda do Tesouro Nacional.
Risco maior
O analista do setor bancário da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, também acredita que as duas instituições tiveram de contrair a oferta e aumentar provisões contra calote diante do maior risco gerado pela economia em recessão. Essa guinada, diz o economista, mostra que o uso do crédito para alavancar a demanda chegou ao limite. “O modelo com bancos públicos ativistas no crédito já não respondia mais. Pessoas já estavam endividadas e não havia mais espaço. Ao mesmo tempo, a inadimplência começou a crescer.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.