O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Autopeças (Sindipeças), Dan Iochpe, acredita que o choque cambial pode ser um incentivo num primeiro momento para a nacionalização, mas pondera que, "para ter um movimento efetivo será necessário que haja competitividade ao longo do tempo, o que envolve o trabalho árduo de redução do custo sistêmico local, o chamado custo Brasil."
Besaliel Botelho, presidente da Bosch, avalia que a discussão também vai envolver quais componentes valem a pena serem mantidos em produção. "Vai haver oferta mundial forte com a queda geral das vendas e isso vai aumentar a pressão por custos e o mecanismo de competitividade será outro." Ele acredita que, passada a pandemia "se espera mais protecionismo do que havia até agora."
Para Botelho, a disparada do dólar torna a produção local atraente, mas, com a crise atual, que deve fazer com que a produção de veículos demore de dois a três anos para voltar aos níveis de 2019, "é difícil pensar em novos investimentos porque as empresas estão sem caixa".
A nacionalização esbarra em problemas antigos como falta de crédito, juros altos, carga tributária elevada e burocracia. "O Brasil tem condições de ser uma potência industrial, mas falta estratégia", diz José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Maquinas (Abimaq). Ele cita que alguns produtos ligados ao agronegócio e à mineração poderiam ser feitos localmente, como fertilizantes. "Temos tudo no Brasil. Por que importamos?" A resposta é que o custo de importar é menor do que produzir aqui. "O resultado é que hoje não fabricamos mais máquinas para esse setor."
<b>Mais espessante</b>
Também no combate à covid-19 a Basf iniciou na semana passada a produção, em São Paulo, de um espessante para o álcool gel. Chamado de Luviset®360, o produto era importado da matriz alemã.
A Basf brasileira usava o Luviset em matéria-prima fornecida a fabricantes de produtos de cuidados pessoais, como gel de cabelo. "Com a escassez de álcool em gel em decorrência da falta de espessantes juntamos forças, envolvemos pessoas de diferentes responsabilidades, áreas e países da empresa e conseguimos em tempo recorde transferir a tecnologia de produção de um espessante da Alemanha para o Brasil", informa Tatiana Kalman, vice-presidente da Basf para a América do Sul.
Segundo ela, serão produzidas "centenas de toneladas" de espessante na planta de Guaratinguetá (SP). Se houver demanda pós-coronavírus, a empresa diz que manterá a produção local.
Já a Braile, de São José do Rio Preto (SP) desenvolveu um aparelho oxigenador que funciona como um pulmão artificial. O equipamento fica ligado ao paciente em situação de gravidade, quando o respirador não atende suas necessidades, e oxigena o sangue para o pulmão. A empresa fará 100 unidades até meados de maio.
Os oxigenadores existentes fora do Brasil só podem ser usados por seis a oito horas, praticamente durante uma cirurgia cardíaca. O nacional poderá ser usado por 30 dias, afirma Patrícia Braile, presidente da empresa especializada em equipamentos para cirurgia cardiovascular. A Braile investiu R$ 2,3 milhões para desenvolver o oxigenador, e metade foi bancada pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii)/Instituto Eldorado./ <b>C.S. e R.P.</b>
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>