Estadão

Para Coppola, a arte deve ‘iluminar o mundo’

A tarefa dos artistas é "iluminar o mundo", disse na sexta-feira, 17, o cineasta americano Francis Ford Coppola no Festival de Cannes, onde apresentou Megalopolis, filme que está na disputa pela Palma de Ouro – e que dividiu a crítica.

O longa narra a história de um arquiteto ambicioso e visionário, dedicado a reconstruir uma Nova York com ares imperiais, diante da oposição do prefeito, em um contexto de decadência política e moral nos Estados Unidos.

Questionado sobre a atual situação política em seu país, Coppola afirmou que "há o risco de perder a República", como aconteceu na Roma clássica. "Mas a minha impressão é que os políticos não são tão relevantes como se acredita", declarou o diretor, que estava acompanhado de atores do filme, como Adam Driver, que interpreta o arquiteto, e que, segundo Coppola, o ajudou na montagem do filme.

Megalopolis teve um orçamento de R$ 615 milhões e Coppola trabalhou nele por quatro décadas. Apesar disso, a crítica se dividiu sobre a produção. O crítico de cinema do jornal britânico <i>The Guardian</i>, Peter Bradshaw, o considerou "megachato". Já Tim Grierson, da revista britânica <i>Screen Daily</i>, chamou o filme de "desastre". Por outro lado, a publicação americana <i>Deadline</i> o classificou como uma "obra-prima moderna que reinventa as possibilidades do cinema".

Megalopolis está na disputa com outros 21 filmes, incluindo Motel Destino, do brasileiro Karim Aïnouz. A primeira Palma de Ouro de Coppola veio em 1974, com o filme A Conversação. Em 1979, venceu novamente, com Apocalypse Now.

<b>Bastidores</b>

Ao <i>The Guardian</i>, um membro da equipe de Megalopolis afirmou que uma única cena com Adam Driver preso a uma cadeira levou seis horas para ser filmada. "Ele perdeu metade de uma diária de filmagem para algo que poderia ser feito em 10 minutos, de maneira digital", se queixou.

Mas a reportagem traz questões mais sérias. Coppola foi acusado de tentar beijar figurantes. O produtor-executivo Darren Demetre defendeu o diretor, dizendo que "nunca recebeu queixas sobre assédio ou comportamento problemático". Segundo Demetre, foram só beijos e abraços para "inspirar" uma cena ambientada em uma boate.

O filme é dedicado à esposa do diretor, Eleanor Coppola, que morreu em abril aos 87 anos de idade, após seis décadas de parceria – e o próprio diretor considera que Megalopolis será seu último trabalho.

"Acho admirável que este homem de 85 anos se comporte como um cineasta independente, como um artista que quer vir mostrar o seu trabalho. Cannes é importante para ele e ele é importante para Cannes", destacou Thierry Frémaux, diretor-geral do festival.

"Eu queria fazer um filme sobre como o ser humano expressa a noção do divino", afirmou Coppola, que bancou a produção com recursos próprios. "Eu diria que é o filme mais ambicioso no qual trabalhei, mais do que Apocalypse Now", completou. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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